sábado, 7 de julho de 2012

EU TE LIBERTO!


 “É de esquerda ser a favor do aborto e contra a pena de morte.
  Direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e o direito do Estado de matá-lo se ele der errado.”
 [Luís Fernando Veríssimo]

  Por essa visão simplória sou “direitista”.

  Simplório: Pessoa que possui excesso de credulidade.
  Tolo, bonachão, ingênuo.

  Como não me considero simplório...

  Com tantos métodos anticoncepcionais disponíveis a princípio sou contra o aborto.
  Porem defendo sua legalização.
  Se a mulher por N motivos não quer levar a gravidez adiante deve ter esse direito de decisão.

  Vou falar de uma ocorrência que me afeta muito.

   Sempre quando encontro uma criança muito deficiente, tipo distrofia muscular severa, me dá uma dor que poucos conseguem imaginar.
  Na minha mente as coisas precisam ter uma lógica, fazer algum sentido.
 
  Uma criança nascer deficiente não faz sentido físico ou “espiritual.”

  Na questão biológica quase dispensa comentários.
  Você quer muito ter um filho, mas exames indicam que o feto tem deformidades muito graves.
  A qualidade de vida dele será péssima e por tabela a sua também enquanto ele permanecer “vivo”.

  Lembrei do caso de uma criança que nasceu com doença de Lobstein.
  A criança sobreviveu dentro do HC Unicamp por 11 anos, (pelas informações que me chegaram), a mãe dela praticamente morava dentro do hospital.

  “A principal característica de ossos de vidro é a fragilidade dos ossos que quebram com enorme facilidade.
   A osteogênese imperfeita (OI) pode ser congênita e afetar o feto que sofre fraturas ainda no útero materno e apresenta deformidades graves ao nascer.”

  Se você procurar na Internet vai encontrar exemplos emocionantes de superação e mães “crédulas” vão se guiar por isso.
  Acontece que essa doença é rara e as pessoas que conseguem conviver “bem” com ela são mais raras ainda.
  A mulher mais realista verá que manter uma gravidez nessas condições é uma aposta pra lá de arriscada.
  Eu não manteria.

  Mas vamos para um lado mais “transcendental” nessa meditação.

  Suponhamos que essencialmente sejamos espíritos e encarnemos em corpos biológicos por algum motivo.

  Como todo processo pode apresentar falhas (perfeição não existe) você foi soprado em um corpo biológico com defeito de geração.
  A que seria sua mãe aborta esse corpo, você é soprado em outro corpo saudável da mesma mãe ou de outra.
  O que não falta nesse planeta são mulheres em processo de gravidez.

  Mas a mulher por N motivos decide levar a gestação adiante.
  A situação fica ... agonizante.

  Imagine ser enterrado e por algum motivo torpe ou “nobre” você fosse mantido vivo.
  Água, comida e oxigênio em porções apenas o suficientes para continuar vivo enterrado.
  Esse calvário pode durar por anos a fio e ninguém tem permissão para te libertar.

  Quando olho para uma pessoa totalmente dependente de outras, sem condições nem de se locomover por conta própria, por vezes nem de respirar sem a ajuda de maquinas, vejo uma alma presa.

  Uma prisão que não desejaria para o pior dos meus inimigos, uma alma aprisionada em um caixão de carne.

  Politicamente me defino como Centro Direita, ou seja, não sou um “direitista fanático”.
  Reconheço a importância de existir o Governo/Estado, mas devemos meditar bastante até que ponto devemos permitir a intromissão do Estado em decisões pessoais.

  Considero uma intromissão indevida o Estado determinar quantos filhos um casal deve ter embora eu defenda punições para pais irresponsáveis.
  Se um casal decide ter 10 filhos e apresenta condições aceitáveis de cria-los, não vejo grande problema, é um direito deles, se querem ter filhos para a Sociedade cuidar a situação fica bem diferente.

  Da mesma forma acho uma intromissão indevida (exagerada) o que acontecia em Esparta e acontece em muitas tribos indígenas.
  Se os pais mesmo sabendo que a criança nascerá com grave sequela querem levar a gravidez adiante devem ser respeitados ... e segurarem o B.O.
  Vi uma reportagem onde o tratamento de uma criança com problema genético custava só em um remédio mais de 1 milhão de reais por ano.
  Com tantos problemas sociais é muito dinheiro para “enquanto sociedade” gastarmos com apenas uma criança.
  O Governo pode ajudar até um limite, o restante que o casal consiga com as pessoas que apoiam sua atitude, seja na “igreja” ou Internet.

  [Por favor não me venham falar de “corrupção”, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
   Se alguém roubou 1 milhão que seja preso.
   Se não foram encontradas provas legais suficientes, mas você acredita que o cidadão é corrupto NÃO VOTE NELE.]

  Hoje em dia temos uma medicina avançada que permite que muitas doenças terríveis sejam detectadas no período de gestação, nossa tecnologia deveria avançar ainda mais nesses diagnósticos.
  Se nossa ciência consegue avisar os pais que o feto é um anencéfalo eles tem direito a essa informação.
  Os pais diante dessa informação devem buscar conhecer como é a vida de uma criança que nasce assim, se é isso mesmo que eles querem para eles e para o filho.

  Observem que não estou incentivando ou propondo o extermínio de corpos defeituosos estou defendendo o direito dos pais de pouparem a criança e se pouparem de tanto sofrimento.

  Entendam que o padre, o pastor, o vizinho... irão falar que tudo é muito lindo, que a vida vale a pena de qualquer jeito, afinal eles só precisam falar frases bonitas.
  Você terá que praticamente deixar de viver para viver a vida do deficiente e qual a vida do deficiente?
  Uma estadia sem fim em vários hospitais, sem poder correr, brincar, sendo um peso constante dia e noite, precisando de ajuda até para ir ao banheiro, algo simples como tomar banho é uma operação de guerra.
  Se isso é difícil com uma criança que pesa 3 quilos imagine quando ela estiver com 30 quilos.

  Na teoria toda vida é um maravilhoso presente de Deus, mas na pratica poucas pessoas suportam a carga de cuidar de deficientes.
  Casamentos são desfeitos, brigas familiares acontecem, o peso acaba ficando nas costas de algum abnegado.

  Tem pessoas que falam maravilhas sobre ter uma criança deficiente, elas realmente gostam da situação...não tenho muito a dizer sobre isso gosto é gosto, mas mesmo essas pessoas não pedem ou querem que nasça uma criança deficiente em sua família.
  Nasceu, elas cuidam com prazer, mas não é algum tipo de sonho realizado para elas.

  Dizer que a deficiência é linda é muita hipocrisia porque nunca vi ninguém que pedisse a Deus um filho que não fosse saudável.

  Como uma situação pode ser linda se ninguém quer para si?!

  É senhoras e senhores, se eu fosse médico faria todos os testes possíveis para garantir que o bebe nasceria saudável, que uma alma viria ao mundo em condições aceitáveis de ter uma vida digna.
  Se detectasse qualquer problema que não pudesse ser corrigido avisaria os pais a respeito da deficiência e de todas as suas consequências.
  Se o casal decidisse que para o bem daquela alma e deles próprios a gravidez devesse ser interrompida eu interromperia sem culpa nenhuma e pensaria:

   Desventurada alma, dessa prisão física... EU TE LIBERTO!


  




 Volte em outro momento, outra condição.






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5 comentários:

  1. tripitaka 490,de bom dia,7 de julho de 2012 às 08:42

    Também não entendo a "crueza" dos eventos,mas "não é para entender isso",ou seja,a explicação,não ajuda muito.
    Não podemos abandonar a vida "à própria sorte",nem tirar o direito a ela.
    Os nomes de todos os que agiram assim(mencionados no texto),atualmente,só servem enfeitar os livros-e para a produção de filmes.

    O "aborto" é quase outro assunto,pois é a interrupção de vidas que ainda não "construíram identidades".
    Ele poderia ser ampliado para alguns (poucos)casos a mais de "má formação congênita".
    Mas,é necessário entender as leis,e o "fundo azul social" que as influencia.
    Os argumentos a favor de tal "melhoria da lei",abririam precedentes para a prática da eutanásia,e para o desamparo aos deficientes vivos,e ativos.
    (muitos,trabalham,e se sustentam)
    Afinal, as condições para a existência deles,foram sendo melhoradas,devido ao fato das comunidades saberem que precisam providenciar tais melhorias,uma vez que eles não tem outra escolha a não ser nascer.

    Imagino como o sr. se sente em relação à "desarmonia" e ao "ilógico".
    Eu idem me apavoro com "qualquer faísca que voa",mas disfarço o quanto posso.
    Estou "agendada" numa faculdade,para receber um atendimento psicológico,para não sei quando.

    É possível entender eventos mais sérios,do que uma prosa indevida numa festa?
    (quando começo a escutar,vou logo embora).
    Há uma crônica que o sr.escreveu,cujo comentário ainda não publiquei- e no qual eu escrevi que a sorte,e a "falta de sorte" podem ser decisões coletivas,tomadas numa "dimensão pré-existente"- a favor da partição melhor- e mais rápida- do pão coletivo.
    Quando temos "pouca sorte", inspiramos os outros a "cuidarem da nossa parte" e a cuidarem de si mesmos também.
    Um rico,é apenas um rico,que sozinho,poderá fazer pouco pelos amigos desfavorecidos que possui.
    Se abrir uma empresa para dar empregos,não conseguirá resolver os problemas do país.
    Outrossim,centenas de pobres reunidos,podem mudar um governo,e começarem uma vida, melhor economicamente,na qual todos rapidamente,ficarão "um pouquinho" mais ricos.

    Gostaria que o sr.entendesse o que eu disse,pois foi uma das melhores teorias que pensei nas últimas semanas.
    Só vou poder publicar aquele texto,agora,na segunda feira.
    De noite,não estarei aqui,amanhã reservarei para ler a web.

    Do mesmo modo, a deficiência física,talvez "cumpre" esse dever.
    De sofisticar o direito civil de uma sociedade.
    E de ensinar o juízo aos mais novos.

    No Abismo,existe uma ilha chamada Maionese,e eu vou viajar um pouco nela.
    Os jovens sempre foram um tanto desregrados,ou sempre acharam o comportamento "desregrado" uma opção de vida.
    Aí,pais,parentes,escolas,televisão,os alertam para os perigos que eles correm,mas eles riem de nós,embora muitos,relutantemente,aprendam com os alertas.

    Quando esses jovens,vêem toda hora- pessoas bem pobres pela frente,e lutando com muitas dificuldades para criarem suas famílias,e ..."pior ainda",quando vêem aos deficientes, eles pensam melhor no que fazem consigo mesmos.
    Porque ficam com medo de entrarem em "frias".

    Claro que não vamos pedir a Deus,mais problemas sociais.
    Mas, imagino que em "dimensões pré-existentes",todos combinamos que usaríamos os limites que aparecessem,para sofisticar o direito civil comunitário,e para controlarmos a conduta alheia,com o exemplo.

    No mais-
    cuidar dos desamparados,é um dever.
    Se a vida é "linda",não tenho certeza,mas é uma necessidade.
    Se precisamos dela,os outros precisam também.
    Consolo,Deus,ou nossos muitos pensamentos,poderá/poderão nos dar.
    Não tenho como "ir longe" nisso.
    Também ando passando por uma "crise" em minhas crenças.
    Mas,os fundamentos das mesmas(conforme visto) se mantêm.

    segue

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  2. (uai...não é que o texto ficou longo...não consegui mandar inteiro,da primeira vez...o que indica a importância do tema)

    Um bom sábado ao sr.,aos nascidos,e aos não nascidos.
    Que Deus cuide de todos os seres vivos,e os conduza à iluminação.
    (que nos conduza a todos,à iluminação)

    Namu Amida a todos os santos.

    (em deferência...)

    °°°°°°°°°°°

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  3. "Quando temos "pouca sorte", inspiramos os outros a "cuidarem da nossa parte" e a cuidarem de si mesmos também.
    Um rico,é apenas um rico,que sozinho,poderá fazer pouco pelos amigos desfavorecidos que possui.
    Se abrir uma empresa para dar empregos,não conseguirá resolver os problemas do país.
    Outrossim,centenas de pobres reunidos,podem mudar um governo,e começarem uma vida, melhor economicamente,na qual todos rapidamente,ficarão "um pouquinho" mais ricos.

    Gostaria que o sr.entendesse o que eu disse,pois foi uma das melhores teorias que pensei nas últimas semanas."

    Adorável e bem posto o comentário da srta Nihil.

    Mas foi também interessante e engraçado o que ela disse antes. "
    É possível entender eventos mais sérios,do que uma prosa indevida numa festa?
    (quando começo a escutar,vou logo embora)."

    Eu não gosto de especular sobre a vida de ninguém. Mas, por exemplo, srta Nihil, você não ia gostar de que eu lhe oferecesse uma musica como essa, e ficaria sem jeito facilmente, não é isso?

    http://www.youtube.com/watch?v=HLfRG6m6S9M

    Voce faz imaginar o que se passa no seu dia contando aqui estas coisas sobre voce.

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  4. Boa noite a vcs.

    Eu acabei de ver o vídeo do Denytus.
    E foi tudo bem na festa.
    A anfitriã,é uma ex-bailarina do Municipal.
    Eu,que abomino dançar,de repente,fui a única que "pegando o embalo" da música que tocava,comecei a inventar uns movimentos.
    Quando não estou percebendo,começo a dançar ao som de qualquer canção,quando percebo,páro.

    Eu curti muito,tudo fica ótimo,quando fica bem.

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  5. O comentário que eu fiz para o sr.William,que vc destacou,baseou-se na teoria dos bodhisatvas,do Budismo.
    O Nirvana,é um céu que só admite a solidariedade.
    Todos entrarão ali,em grupos.

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