Prestei serviço militar, lembro do forte
condicionamento mental a que somos submetidos.
Exercícios até a exaustão física
complementados com “mantras” repetidos sem trégua.
“Esse
sangue é muito bom.
Já provei não
tem perigo.
É melhor do
que café.
É do meu
inimigo.”
Um, dois ... três, quatro.
Um, dois ... três, quatro
Tem alguém cansado?
NÃO!
Tem alguém com fome?
NÃO!
Tem alguém com sede?
Tem alguém com sede?
NÃO!
A
tropa da qual eu fazia parte era a Companhia de Comando da Brigada, tinha 64 ou
67 homens, se um único soldado dissesse mesmo por gracejo que estava cansado a
marcha aumentava de acordo com a vontade do comandante.
O “bullying” dos superiores é uma constante.
Faz parte do treinamento.
Teve um Tenente Baraldi que virou meu encosto
desde o começo.
Ele colocava apelido em todo mundo, mas os
preferidos eram eu e o “Patinho Feio” 😏 meu colega soldado Nelson.
Tadinho, ele era feinho mesmo.
Lembro que em uma “missão” (roçar o mato do
quartel) algumas abelhas o atacaram.
Seu rosto inchou, ficou meio deformado.
O tenente foi informado, olhou pra ele e
disse:
Tenente Baraldi: “Não vejo diferença, é a mesma cara feia de
sempre”.
(Quem rir vai para o inferno ...😂)
No meu caso ... foi pior ... porque era
comigo 😏.
Meu alistamento nem estava confirmado, o
Tenente Irineu passou em revista a tropa.
Nem farda estávamos usando, fizeram nós
ralarmos mesmo com roupas de civis.
Todos obedecíamos a tudo na tentativa de não
cair em desgraça (servir o exército).
Eu tenho cílios “bem feitos” (vamos dizer
assim).
Tenente Irineu: “Esses cílios são seus ou você é uma Penélope
Charmosa?”.
São
meus Senhor!
(Tinha que falar Senhor)
A tropa riu muito, com o Tenente Irineu
não passou disso.
O problema é que o Baraldi ouviu...
A partir dali, para qualquer exercício, eu, “a
Penélope”, estava fazendo corpo mole.
Meu apelido não pegou igual ao do Patinho
Feio.
Qualquer um que me chamasse de Penélope era
ignorado totalmente.
Isso incluía os superiores hierárquicos.
Foi mais ou menos 1 mês de muito bullying.
Até que teve o “confronto final”.
Depois de um dia exaustivo, ainda em formação,
o espirito maligno Baraldi veio me “obsidiar”. 😏
(Agora eu rio,
mas no momento foi trágico.)
Começou com esse negócio de Penélope Charmosa, eu
ignorei totalmente.
(Uma informação importante
... eu estava com forte desejo de suicídio.)
Deixei o Baraldi em uma situação difícil,
tinha muita gente ali, não só a tropa, mas outros oficiais.
Eu
estava ostensivamente desrespeitando a hierarquia, não obedecendo ordens.
Havia um fosso ao lado do QG, tinha chovido, estava
cheio de água, uns 4 metros de profundidade.
Baraldi: “Soldado pule no fosso”.
William: Eu não sei nadar ... senhor.
Baraldi: “Soldado
PULE NO FOSSO!”.
Eu não disse mais nada, corri e me atirei no fosso.
Uns três soldados pularam para me resgatar.
Ficou aquele climão.
Voltei para formação encharcado e com nariz e
garganta ardendo demais pelo quase afogamento.
Pensei.
Se o suicídio ocorrer no quartel, mato o
Baraldi primeiro...
Mas depois dessa ocorrência, embora ele
pegasse no meu pé, diminuiu bastante a intensidade.
Sinceramente desejo tudo de bom para ele, não
restou nenhuma magoa.
O apelido de Penélope Charmosa ... morreu
afogado no fosso.
Fora do exército...
Ao receber ordem não consigo deixar de
pensar, automaticamente verifico se concordo ou não.
Se meu superior dá uma ordem cumpro pelo
respeito a hierarquia sem deixar de querer entender a razão e avaliar a
eficiência da medida.
Isso em geral é feito internamente, cada um
tem seu estilo de liderança, não sou aquele funcionário irritante, sempre
questionando tudo.
Só emito opinião quando tenho sugestão melhor
ou diante do que considero "injustiça".
Já aconteceu de eu pagar dia de funcionário
do meu bolso (quando fui encarregado) por não concordar com a decisão do dono
da Empresa.
Não consigo
lembrar nenhuma fase da minha vida onde tenha idolatrado alguém ou alguma coisa.
A não ser
na minha infância e adolescência cristã/católica, mas não vamos trazer religião
para essa meditação.
Idolatria: Excesso de amor;
admiração exagerada por outra pessoa.
Culto de imagens e/ou das esculturas de santos.
Mesmo naquelas paixões de adolescente nenhuma
moça conseguiu se aproveitar dos meus sentimentos.
Qualquer solicitação era analisada e
submetida a conveniência de fazer ou não.
O pensador que mais me influenciou foi
Sócrates, mas nunca chegou nem perto de alguma adoração.
O que leva uma pessoa seguir outra sem pensar?
O que leva alguém seguir uma ideologia sem
pensar?
Não sei, não é da
minha natureza.
A idolatria é uma FORÇA QUE DESCONHEÇO em
mim, apenas observo nos outros...
Comentarista: "William, dizem que os neologismos foram criados no calor de uma garrafa de vinho envelhecida no Sul da França."
William: Eu até que gosto.
No exército um tenente nos chamava de "Mocoreba".
Ninguém sabia o que era isso.
Até que um colega perguntou.
A resposta me fez rir bastante, apesar de estar "depressivo" na minha fase militar.
Soldado Noel (vulgo Lagartixa): Tenente, o que significa Mocoreba?
Tenente “simpático”: Mocoreba é uma palavra que não significa nada, igual você.
😂😂
Nota: Neologismo é um fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente.