sexta-feira, 2 de março de 2012

Limite da Competência





  “Todo cargo tende a ser ocupado por um funcionário não qualificado para desempenhar suas funções.”
   
(Edward Murphy)

 



  Certa vez li um livro de auto ajuda muito interessante, não lembro bem o título, era algo como “O Limite da Competência”, tinha uma filosofia de boa qualidade embutida nele.
  Coloquei esse nome no Google e veio um autor nacional, não é o mesmo livro que li.
  O que eu li foi escrito nos Estados Unidos por volta de 1970, a publicação original.
  Ao ler o pensamento acima automaticamente me veio à mente o essencial desse livro.

  No livro tinha a  tese que íamos progredindo na carreira até chegar no ponto que ficamos “incompetentes”, daí estacionamos na incompetência ou somos demitidos.
  Culturalmente consideramos um pecado mortal regredir na função dentro da mesma empresa.
  Tipo, perder o cargo de encarregado.
  No caso do Brasil ainda tem a questão salarial, por lei, salários não podem ser diminuídos.

  Vamos a um exemplo.
  Você é vendedor muito competente, um dos melhores da empresa.
  Surge vaga, é promovido a chefe de vendas, seu salário fixo sobe em carteira 50%.
  O vendedor em geral é “individualista”, é ele e o cliente, seu sucesso nessa função depende basicamente do próprio poder de convencimento.
  Ser chefe de vendas, envolve liderança, trabalho em equipe.
  Você é o tipo de pessoa que se responsabiliza bem por seus atos, mas não gosta de se responsabilizar pelo atos de outros, não tem paciência para o trabalho em equipe.
  Enfim, chefia não é com você...
  Depois de 6 meses, você está insatisfeito com o trabalho e a empresa insatisfeita com os resultados.

  O caminho mais sensato (lógico) seria de comum acordo retornar ao que era.
  Você volta a fazer o que fazia melhor, volta a ganhar o que ganhava, a empresa faz tentativa com outra pessoa.
  Sem dramas, foi um teste, valeu a tentativa, poderia dar certo, mas não deu.
  Dinheiro não é tudo, a posição de chefia paga mais, mas “sua competência” (perfil) não se adéqua a esse cargo.

  Em geral é isso que acontece?
  Infelizmente não.
  Dar um passo atrás é considerado “culturalmente” profunda humilhação.
  Daí você vai seguindo chefe “incompetente para o cargo”.
  Ou  se os resultados forem muito desagradáveis a empresa te demite.

  Assim os cargos “tendem” a ser ocupados por incompetentes.

  Para que isso não ocorra o “administrador” tem que ser competente.
  Avaliar com muito cuidado se o funcionário tem “perfil” para a vaga que surgiu.
  Mas sabem como é, ninguém tem bola de cristal.
  Qualquer promoção é uma aposta, tentativa, erro ou acerto.
  Em caso de erro era só dar um passo atrás ... um pequeno passo para a lógica, mas um salto cultural enorme para nossa sociedade. 😏

  Toda essa dinâmica não é só responsabilidade do administrador, é sua também.

“Conhecer a si mesmo”.

  Quando surge oferta de promoção é natural que surja algum medo.
  Ao mesmo tempo surge satisfação pelo reconhecimento e alegria do salário maior.

  Busque o equilíbrio, não se renda ao medo nem se entregue a euforia.

  A decisão seria mais fácil se pudéssemos dar um passo atrás depois de testar o cargo, mas infelizmente ainda não estamos tão evoluídos culturalmente.

  Por muito tempo eu abraçava "promoções".
  Fui líder de classe no ensino médio.
  Cheguei a dar aulas como modelo.
  Fui encarregado na empresa que trabalhei mais tempo.
  Encarei o desafio de ter meu próprio negócio.

  Depois de muita luta e resultados parcos ... fui me acovardando.
  O tempo vai passando, muitas cicatrizes, a “alma” vai demorando para se recuperar dos baques.

  Em uma empresa de materiais para construções (C&C) eu era tipo repositor, me ofereceram promoção para vendedor (isso era comum ali), me conhecendo sabia que não tinha o perfil.
  Ficar andando com o cliente por toda loja, sendo simpático e paciente ... não sou mais capaz disso.
  Eu nem quis dar esse passo à frente.
  Isso deve ter pesado para eu ter sido demitido, minha falta e "ambição".

  No atual emprego (HC Unicamp) a encarregada Elizete “quis” me colocar de apoio.
  É o primeiro passo para um dia chegar a chefia.
  Deixei bem claro que não gostava daquela posição, não tinha perfil para ser chefe ali.
  No funcionalismo público o funcionário tem "estabilidade"; o encarregado tem que ser negociador habilidoso.
  Não é como na iniciativa privada que se o empregado for muito incompatível podemos demitir.
  Paciência, muito tato na negociação ... não sou mais capaz disso.

  E aqui chegamos onde eu queria.

  Para qualquer cargo novo somos incompetentes pela inexperiência.

  Analisando as responsabilidades/característica do cargo você acredita que pode vir a ser competente nele?

  Se sim, vai em frente.

  Se não ... porque correr atrás!?

  Vai seguindo sua vida calma, tranquila, se adaptando aos seus rendimentos.
  Fique no cargo para o qual tem competência, toda sociedade agradece 😏.

  Culturalmente é desabonador um homem se declarar “covarde”.
  Mas não vou falar que possuo uma “coragem” que há muito me deixou.

  Me declaro incompetente para assumir grandes responsabilidades.

  Isso me é libertador.

  Estou livre para seguir minha vida rotineira, tranquila, previsível, dentro das minha possibilidades.

  Viver a vida sem ultrapassar o limite da minha competência, não  ser fardo para ninguém.

  Essa lógica entra em sua mente?







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