domingo, 5 de fevereiro de 2012

Não seja um Fardo






    “A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais.”

    (Epicuro)

 



  Enquanto estamos vivos existe a morte dos outros...

  Minha filha de 8 anos (Fevereiro/2012) acordou muito assustada, correu para o quarto onde minha esposa estava dormindo, olhou se ela estava respirando e não satisfeita alisando o rosto da mãe a fez acordar.
  Minha esposa ficou assustada com o desespero da nossa filha e logo veio a explicação.
  A Ellen teve um pesadelo onde a mãe havia morrido.
  Imaginem o alívio dela ao ter certeza que tudo não passou de um sonho terrível.
  Infelizmente sabemos que muitas crianças passam por esse triste acontecimento, a morte da mãe ou do pai.

   Nenhuma morte é fácil, no entanto quando acontece no lar do vizinho e ele não é muito próximo a nós, a morte nos parece um acontecimento banal, quase nada.
  Quando aparece a notícia no jornal que um indivíduo qualquer morreu ou foi assassinado, também conseguimos nos manter calmos, não impacta muito nossa vida, a morte é quase nada.

  Tem a morte daquela pessoa muito idosa que já está com graves problemas de saúde, mesmo que seja uma pessoa próxima a nós vamos nos acostumando com a ideia, a morte é quase nada.

  A morte que nos traz mais impacto é aquela que em teoria não deveria ocorrer nesse momento.

  Filhos que perdem a mãe muito cedo, mal desfrutando de sua companhia.
  A morte daquela pessoa com a qual pretendíamos  casar constituindo uma família.
  Pais que perdem os filhos, amigos que perdem amigos...

  Aquela pessoa que fazia tão parte dos nossos pensamentos, da nossa vida, de repente desaparece, nunca mais a veremos.
  A morte existe e dói demais.

  Por vezes as pessoas não entendem bem minhas atitudes, é porque ao contrário de Epicuro e da maioria das pessoas que fazem questão de não pensar na morte ... para mim a morte é uma possibilidade sempre a espreita e que pode mudar coisas muito importantes na minha vida a qualquer instante.

  Não gosto de aborrecer ou incomodar as pessoas, não gosto de ser fardo para ninguém, a vida de cada um já tem tantas dificuldades, não quero ser mais uma.

 


      Fardo: Carga, volume que pesa excessivamente.

  


  Também evito que as pessoas se apeguem a mim em demasia.
  Sempre incentivei minha esposa a ter a maior independência possível, o mesmo faço com minhas filhas.

  A intenção dessa meditação não é tornar ninguém um "sangue de barata".
  Alguém que suporta tudo, aceita tudo, porque o outro um dia pode morrer e nos fazer muita falta.
  Apenas defendo que poderíamos evitar discussões infantis, mesquinharias, revanchismos ... buscar um equilíbrio.
  Não dá para viver com a ideia fixa que a pessoa que você gosta pode morrer a qualquer momento, mas também não convém acreditar que sempre estará conosco.

    Todos deveríamos nos preocupar mais em não atrapalhar, não ser um peso para uma outra vida, principalmente para aquelas pessoas que dizemos gostar.



  
  Tem um velho ditado que gosto e repito com frequência mentalmente.

“Se não pode ajudar, não atrapalhe.”

  Se não estou em condição de ajudar alguém, me esforço para pelo menos não atrapalhar.

  A morte não deve ser ignorada, ela pode nos atingir a qualquer momento ou a uma pessoa que gostamos muito, então antes de qualquer ato de ignorância lembre-se que aquele momento pode ser o último em que você esteja com aquela pessoa, a morte está sempre à espreita.

  Por outro lado ... como poucas pessoas tem real consciência da brevidade da vida e de quanto ela pode ser interrompida abruptamente se eu não tomar cuidado me torno "capacho" de mentes com baixo grau de consciência.

  Uma ilustração fácil de visualizar.

  Você, uma pessoa muito consciente, ajuda o "próximo" o melhor que pode.
  Mas se esse próximo é uma pessoa "com baixo grau de consciência" tenta se aproveitar da sua "boa vontade".
  Quem nunca teve aquele colega que é sempre:

    “Venha a nós, mas ao vosso reino nada.”

  Ele quer sempre ser ajudado, mas na hora que você precisa do mínimo favor ... nada.

  Resumindo ao mínimo possível essa meditação:

  Se pode ajudar, ajude.
  (Cuidado para não viver só em função do outro, virar capacho.)

  Se não pode ou não quer ajudar, não atrapalhe!

  Dois  exemplos simples.

  Você não precisa se obrigar a lavar o prato que sua esposa comeu, mas poderia se obrigar a lavar o seu, sua vida seria um fardo menos pesado para a vida dela.

  Você não precisa se obrigar a arrumar a cama da sua mãe, mas poderia se obrigar a arrumar a sua, sua vida seria um fardo menos pesado para a vida dela.

  Não seja um fardo na vida das pessoas, principalmente das que você diz gostar tanto.

  Essa lógica entra em sua mente?










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