sábado, 25 de fevereiro de 2012

Outra Face







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   “Ele teve um desequilíbrio.
    Reconheceu que estava nervoso naquele momento – disse o coronel, que conversou com o sargento pelo telefone após tomar conhecimento do caso.”
   (O Globo)



  Não é propriamente sobre esse acontecimento que irei falar, apenas usarei como gancho.

  Para trazer algum dinheiro para casa já trabalhei em muitas coisas.
  Aproveitando minha altura e um bom físico devido a musculação já fiz bicos como segurança.
  Por vezes já tive que respirar muito fundo e contar até 10 para não cometer um desatino.

  Tem aquele cara fraquinho que você pode derrubar com apenas um golpe e ele fica ali torrando a paciência.
  Sem ter noção do perigo fica colocando o dedo na sua cara confiante que não será agredido.

  Tem aquela moça escandalosa que fica gritando, falando desaforos, com a certeza que não será agredida só por ser mulher.

  Outra situação é daquele cara “importante” que quer te tratar como lixo.
  Por sermos pobres ele imagina que devemos beijar o chão que ele pisa.
  Diz coisas do tipo:

 😠O que você ganha em um mês eu ganho por dia.”

  Se o cidadão não ganha tão bem, mas tem algum “titulo” (médico, advogado, delegado ...), por ele ser “importante” acredita que você em hipótese alguma irá agredi-lo.

  Na minha contagem até 10, ficava meditando o quanto aquela pessoa na minha frente não tinha noção do perigo que estava correndo, um idiota abusando da sorte.

  Um segurança por mais treinamento que tenha não é um androide alienígena, ele é humano, você pode estar o provocando em um péssimo dia, um momento que ele já esta com os nervos a flor da pele.

  Nos trabalhos como segurança ainda não tive como colega de trabalho “monges budistas”.
  E mesmo monges são humanos sujeitos a explosões.

  Discutir grosseiramente com um sujeito muito mais forte ou principalmente que esteja armado é um grande risco.
  Nessa meditação gostaria que ao menos você ficasse ciente disso.


  Certa vez faltavam umas 2 horas para terminar meu turno de 12.
 (Final de turno e dias quentes são situações críticas, cansaço e desconforto.)
  Tive problemas com uma pedinte na rodoviária de Campinas que começou a caçoar de mim.
  Pedi várias vezes que ela deixasse o local.
  Ela me olhou com desprezo e seguiu pedindo.
  A pedinte disse para um passante algo mais ou menos assim:

  😁“Agora tenho até guarda costas.”
 
  Em uma fração de segundos a peguei pelo braço e a lancei uns 3 metros longe, só quando a vi deslizando por uma rampa é que me dei conta do que havia feito.

  Ali na rodoviária havia uma “máfia de mendigos”, um colega homem dela ameaçou vir pra cima, mas quando viu minha expressão de ódio resolveu recuar.
  Ainda bem, não dei um soco na pedinte porque era mulher, um homem não teria a mesma sorte.

  Outra vez (na mesma rodoviária) um cidadão “importante” veio pôr o dedo no meu rosto.
  Tipo, “você sabe com que está falando?”.
  Dei um tapa na mão dele, falei alto como um demônio dos filmes.

  NÃO ME INTERESSA QUEM VOCÊ É!

  Ainda bem que afinou na hora, senão era outro que iria deslizar pelo chão com um soco de brinde...

   Lembrei agora de um vídeo em que o cara para em um posto de gasolina, a frentista vai lá dando uma de super mulher por algum desentendimento, o cara deu-lhe um soco direto que ela desmaiou na hora.

  Em dois casos recentes clientes foram tirar satisfação com seguranças de banco, foram baleados, nos dois casos os clientes morreram por conta de um desentendimento na porta giratória.


  Mesmo que se sinta injustiçado, sugiro que tente manter a calma diante de pessoas armadas, mais fortes ou que estejam em maior número que você.

  Pegar touro a unha pode ser um bonito ato de coragem, mas antes da ação tem que vir questionamentos.
   

  Porque vou pegar o touro a unha?
  Estou 100% certo?
  Vale mesmo a pena?
  Eu “consigo” pegar o touro a unha?

  
  O fio condutor dessa meditação é a IMPREVISIBILIDADE DA REAÇÃO HUMANA.
  Qualquer um de nós pode estar em um mau dia (irritado) e fazer algo que se arrependa depois.
  Quando a pessoa é forte ou está armada, o lado que está em desvantagem tem mais motivos para ser ponderado.
  Em resumo é isso.



  E quando você é a pessoa mais forte?
  (Como é meu caso na maioria das vezes, pelo menos fisicamente.)

  Evidente que também deve buscar ponderação.
  Vejam o caso do vigilante que matou o cliente do Banco.
  O empresário levou a pior, morreu, mas a vida do vigilante também virou de cabeça para baixo.
  A justiça aqui é lenta, mas dificilmente vai escapar de uma condenação, o que se discute é apenas o tamanho da pena.
  Se ele resistisse ás injurias (segundo ele) do empresário sua vida provavelmente estaria muito mais tranquila.
  Em caso de ofensa racista poderia até tirar algum dinheiro do empresário o processando.
  O vigilante em um momento de desvario atirou no empresário ... e os dois foram para o “abismo”.



  Para fechar essa meditação tenho duas situações para “analise filosófica”.


1 -  Certa vez durante debate/discussão, um cidadão deu um chute em Sócrates.
  Sócrates estava em boa forma física, lembremos que ele foi soldado, lutou em guerras.
  Poderia revidar, estava com amigos e aparentemente era o lado mais forte.
  O filosofo preferiu sair dali em silêncio.
  Sócrates era muito hábil com as palavras, o conteúdo do seu debate com o agressor não ficou registrado, mas de certo foi dito algo que abalou emocionalmente o cidadão profundamente.

  (Eu mesmo vivo muito isso, escrevo alguma coisa que questiona profundamente a crença/convicção da pessoa, ela não tem argumentos para se defender e parte para agressão verbal que se pudesse seria física.)

  Os amigos questionaram porque Sócrates não devolveu o chute com ainda mais intensidade?

  O que ele disse me marcou profundamente:

  
 “Se um burro lhe desse um coice, faria algum sentido você dar um coice no burro?
   Você não estaria sendo mais burro que o próprio burro?”
  (Sócrates)


   Sócrates era fantástico, havia demolido as crenças daquele homem, ele entendia que diante daquela dor mental o chute que havia recebido era desprezível.
  Revidar o chute só levaria os dois para o abismo.




2 - Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.”
 (Jesus - Mateus 5:39)

  Confesso que o exemplo deixado por Jesus não me agrada.
  Ceder tão passivamente diante do mal!
  Não importa a motivação da agressão, simplesmente aceitar e se oferecer em mais sacrifício!?
  Jesus com “seus poderes” era mais forte.
  Se esse pensamento fosse para uma situação especifica como foi a de Sócrates ... tudo bem.
  Mas do jeito que está escrito sugere que essa deve ser a atitude habitual.

  Imagine você mulher, seu namorado te dá um tapa, você oferece a outra face, o mais provável é que ele continue te batendo sempre que quiser.
  As pessoas violentas/más não tem o mesmo padrão de comportamento das pessoas mais “pacificas”.
  Remorso e arrependimento nelas (quando acontecem) não tem a mesma intensidade.

  Sócrates (naquela situação) eu entendo completamente, embora me seja difícil manter tanta serenidade.
  Jesus eu não entendo, considero muita ingenuidade diante do mal.


  De qualquer forma, seja você Cristão ou simpatizante de Filosofia.
  Seja forte ou fraco.
  Esteja com a razão ou haja dúvidas quanto a isso.

  Reflita bem antes de agir com violência.
  Reflita antes de retribuir um ato de agressão física ou verbal.



  Cuidado com o abismo!




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