terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Prazer da Dor

 




  “Consolamo-nos muitas vezes das nossas infelicidades pelo prazer que nos dá exibi-las.”
   
(François de La Rochefoucauld)




   Há indivíduos que parecem ficar consolados de suas dores se outros sentem dó deles.


  Lembrei agora da minha colega "Edna".
  Já conheci pessoas que parecem personagens de desenho animado, era o caso dela.
  Gostava de ouvir suas histórias, eram reais, sérias, mas pareciam conto de ficção.
  Uma delas acho que já contei aqui (tenho que revirar os arquivos) sobre um “fantasma, espirito” que por um tempo ficou a perseguindo.
  Hoje no entanto lembrei de certa vez que estávamos em um grupo conversando sobre a infância, essa colega disse que quando criança adorava ficar doente e ir para o hospital, ficar internada!
 😲

  Todos riram e ficaram boquiabertos, eu ansioso perguntei:

   O que você tanto gostava no hospital?

  Edna: "Quando eu adoecia todos eram tão atenciosos comigo, minha família, as enfermeiras, eu era o centro das atenções."


  Acreditam que ela sinceramente gostava da comida do hospital, seu prato preferido era arroz com carne moída ... que figura!

  Nunca encontrei outra pessoa tão fácil de questionar, entrevistar quanto ela.
  Eu perguntava, ela respondia naturalmente, mesmo diante de assuntos que para a maioria é constrangedor.
  Não, nunca tivemos absolutamente nenhuma intimidade.
  Ela tinha namorado, eu já namorava minha esposa, as duas eram grandes amigas.
  Era “espontânea” com todos a sua volta.

  A Edna aceitava o sofrimento porque ele fazia com que as pessoas tivessem pena dela e por conta disso a tratavam melhor.

  O namorado era um tanto violento, para dar um tapa no rosto dela não pensava muito.    
  Certa vez ela levou uns tapas na porta da empresa, os seguranças tiveram que intervir.

  Todos ficaram revoltados com a situação, mas ao conversar preocupado com ela sobre o assunto...uma daquelas bombas mentais explodiu em minha mente.

  Percebi que a Edna gostou de apanhar (ou pelo menos do que veio depois), aquela atenção que todos estávamos dando a ela era tudo de bom.
  Em um momento raro de “não espontaneidade” ela se mostrou injuriada com a atitude do namorado, mas sei lá, vi nos olhos dela uma ... satisfação. 

  Houve um tempo que eu me interessava muito em conversar com as pessoas, entender outras mentes.
  Depois de um nível satisfatório de entendimento, perdeu o encanto.
  Faz tempo que converso pouco mais que o essencial.

  A Edna era um livro aberto, contava detalhes da sua vida mesmo sem ninguém perguntar.
  Foi um “mundo” interessante de conhecer.

  Na mente da Edna encontrei uma mulher que gostava de apanhar e se sentia bem sendo submissa...


  

 

 

   

   

 

  
Eu não sei dizer nada sobre os condutores, mas tenho 
vasta experiência com os pedestres.
  Eles não conversam comigo e eu não converso com eles.
               Frank Hosaka
 
  
  “Vocês que fazem parte dessa massa
   Que passa dos projetos do futuro
   É DURO TANTO TER QUE CAMINHAR
   E dar muito mais do que receber
   E ter que demonstrar sua coragem
   À margem do que possa parecer
   E ver que toda essa engrenagem
   Já sente a ferrugem lhe comer

  Êh, oô, vida de gado
  Povo marcado eh
  Povo feliz
  Êh, oô, vida de gado
  Povo marcado eh
  Povo feliz” (Frank Sofrido 😏)


 

       


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