“Há quem defenda os seus
erros como se estivesse a defender uma herança.”
[Edmund
Burke]
Herança psíquica ancestral
“Enquanto trabalhava em minha árvore genealógica, compreendi a estranha comunhão
dos destinos que me ligava aos antepassados.
Tenho a forte impressão de estar
sob a influência de coisas e problemas que foram deixados incompletos e sem resposta
por parte dos meus pais, avós e de outros antepassados. [...] Sempre pensei
que teria de responder questões que o destino já propusera a meus antepassados,
sem que lhes houvessem dado qualquer resposta; ou melhor, que deveria terminar,
ou simplesmente prosseguir, tratando de problemas que as épocas anteriores haviam
deixado em suspenso.”
(JUNG, 1990, p. 216)
Uma avó que foi abusada sexualmente transmite os efeitos do seu trauma,
mas não o seu conteúdo.
Talvez até mesmo seus filhos, netos e bisnetos sintam uma certa
intolerância em relação à sexualidade, ou uma desconfiança visceral das pessoas
do sexo oposto, ou uma sensação de desesperança que não conseguem explicar.
Essa herança emocional também pode se manifestar como uma doença.
O psicanalista francês Françoise Dolto, disse, “o que é calado na primeira geração, a segunda carrega no corpo”.
Assim como existe um “inconsciente coletivo “,
também existe um “inconsciente familiar”.
Nesse inconsciente estão guardadas todas as experiências silenciadas,
que estão escondidas porque são um tabu: suicídios, abortos, doenças mentais,
homicídios, perdas, abusos, etc.
O trauma tende a se repetir na próxima geração, até encontrar uma
maneira de tornar-se consciente e ser resolvido.
Uma das
maiores tolices que conheço é essa tal de herança ancestral apresentada pela
Psicologia.
É um campo bem propicio para viajarmos na
maionese, tudo cabe nela.
A Psicologia não é ciência, é doutrina.
Meu pai era um tanto violento com minha mãe.
Uma das várias “respostas” para esse
comportamento é o “resquício do tempo das cavernas”.
Herança ancestral de quando o macho da espécie se impunha pela força física.
Caraca!
Milhares de anos passaram, tantos homens se
livraram disso, menos alguns como meu pai!?
Minhas irmãs deveriam se interessar por homens
mais agressivos.
Primeiro em nome da tal herança ancestral,
segundo porque deveriam buscar um modelo de marido próximo ao modelo do pai que
tiveram.
Na minha família não observo essa ocorrência.
Meus cunhados são homens bem tranquilos que
em nada lembram meu pai.
A herança ancestral é só uma desculpa para
persistir no “costume”.
Se você mulher não concorda em ser submissa
ao marido pode hoje mesmo defender essa posição e agir nos conformes.
Ou pode defender a submissão como um
mandamento do livro sagrado ou herança dos tempos das cavernas e manter-se
submissa.
Quero dizer que você pode DECIDIR defender
uma herança mesmo que considere um erro.
Veja o caso de muitas evangélicas:
Não cortar o cabelo, não usar maquiagem, não
usar calça, saia abaixo do joelho, o marido é a cabeça da casa...
Não existe uma lei no
Brasil que obrigue uma mulher a isso, ela o faz por decisão própria.
Fora a decisão pessoal destaco outras duas grandes
forças.
Condicionamento:
O
condicionamento é um processo de aprendizagem e modificação de comportamento
através de mecanismos estímulo-resposta sobre o sistema nervoso central do
indivíduo.
Esse processo é vinculado ao Behaviorismo ou
Comportamentalismo, que é o conjunto de ideias presente na Psicologia que vê o
comportamento como único, devendo ser o objeto de estudo da Psicologia.
O primeiro tipo de condicionamento,
denominado Condicionamento Clássico, foi desenvolvido pelo fisiologista russo
Ivan Pavlov.
Pavlov fez uma experiência envolvendo um cão,
uma campainha e um pedaço de carne.
O fisiologista percebeu que quando o cão via
o pedaço de carne, ele salivava, o que foi chamado de reflexo não condicionado.
Pavlov também começou a tocar a campainha
(estímulo neutro) quando ia mostrar o pedaço de carne.
Rapidamente o cão passou a associar a carne
com a campainha, salivando também toda vez que ela era tocada.
Essa reação a um estímulo neutro foi chamada
de reflexo condicionado.
Em resumo ... quando você faz algo desejado
por “seus pais” recebe recompensa. Se faz algo indesejado recebe punição.
O prêmio vai de elogio até algum presente.
A punição vai de uma carcada até um cascudo.
O condicionamento não é necessariamente ruim,
é uma forma de aprendizado.
Exemplo rápido.
Você está de boa fazendo suas necessidades na
fralda.
Seus pais através de “estímulos” vão te
condicionando a usar o peniquinho.
Depois de algum tempo quase 100% dos humanos chegam
a conclusão que usar o penico (vaso sanitário) é melhor, mas tudo começou em um
condicionamento.
Minha sugestão é que quando for questionar um
“suposto” condicionamento, faça isso sem “pré conceitos”.
Exemplo:
Decorar a tabuada é ruim?
Eu achei bom, economiza tempo pensando.
Quanto é 3 x 3 ?
O 9 vem como por encanto 😆
Pensar nesse resultado levaria mais tempo.
Cultura:
Cultura significa todo aquele complexo que
inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos
os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, como
também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro.
Em resumo ...
Cultura é um condicionamento
em escala social.
Perante toda sociedade, a partir dos 2 anos
de idade, se a criança ainda usa fraldas, é tido como incompetências dos pais.
(Só para amarrar no
exemplo anterior.)
Em geral não gostamos de ter uma imagem
negativa no grupo social.
Minha sugestão é que ao questionar a cultura
vigente faça sem “pré conceitos” e sem extremismos.
💣 “Temos que mudar tudo
que está aí!”!
💣 “Temos que manter a tradição custe o que custar!”
Esse é um Blog de FILOSOFIA.
Analisamos cultura, condicionamento e
decidimos o que fazer diante da situação que nos encontramos.
Em alguns países muçulmanos a submissão
feminina é ordenada pela lei (fruto da cultura).
Mas observo que quando islâmicas tem a chance
de votar optam pela manutenção dessas leis.
No passado mais distante havia grande
dificuldade de comunicação entre os povos.
Mas depois do desenvolvimento da imprensa
informações sobre outras culturas foi ficando cada vez mais disponíveis.
Vieram jornais, livros, revistas, rádio, TV e
agora Internet.
Quero dizer que faz décadas que uma islâmica sabe
como mulheres ocidentais vivem.
Elas mantem essa cultura de submissão baseado
em que!?
A teoria da “herança ancestral” não se
sustenta.
O islamismo tem cerca de 1500 anos, antes
disso as mulheres do “Oriente Médio” eram bastante independentes.
Eu acho ridículo defender que tenho que
permanecer no erro por conta de uma herança que só poderá ser alterada bem
lentamente no decorrer de milhares de anos.
Meu pai batia na minha mãe, eu achava isso
errado, então não bato em minha esposa, não precisou de centenas de gerações,
bastou bom senso em uma única geração.
Tenho consciência que meu neto ou bisneto
pode vir a ser homens violentos que agridam suas esposas e elas podem ser
tolerantes com esse comportamento.
(Observamos isso no cotidiano
dos jornais, mulheres livres que se submetem a certos “brucutus”.
E brucutus que não tem como justificar esse comportamento
quando analisamos a família da qual vieram.
Lembram do caso Suzane Richthofen?
Nenhuma das duas famílias –até onde foi pesquisado
– pode ser responsabilizada pela monstruosidade dos filhos)
Para concluir.
Justificar algo que você acha errado em nome
de uma herança ancestral ... tome cuidado com isso.
Espero que você tenha consciência que está
vivendo aqui e agora, conserte agora o que acha que está errado, defina suas
prioridades.
Não justifique seus
erros (ou prazeres) em nome do passado.
“Há quem defenda os seus erros como se
estivesse a defender uma herança.”
[Edmund
Burke]
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