“Falta muito para que a inocência tenha tanta proteção como o crime.”
(François Rochefoucauld)
A ameaça da canção de ninar.
Revista
Veja, 24/08/2011
Quem dorme aceita se retirar da realidade e
ficar indefeso. Esta retirada, sem a qual nós não vivemos, pode ser angustiante
e deve ser facilitada. Por isso, espera-se de uma canção de ninar que ela seja
apaziguadora. No entanto, ainda hoje, no Brasil, ouve-se a canção aterradora
com a qual eu fui criada.
Tive o desprazer de constatar isso, ligando a
TV Globo e vendo um ator que a cantava, segurando nos braços um bebê: «Dorme neném
que a cuca vem pegar/ Papai foi pra roça/ Mamãe foi passear». O rosto do ator era bonito e o bebê
comovente. Dois anjos mas, sem ter consciência do que fazia, o ator ameaçava o
bebê. Dizia-lhe que o pai e a mãe estavam ausentes, e, caso ele não dormisse, a
cuca o levaria.
Popularmente, a cuca é uma velha feia
parecida com um jacaré. Segundo o Aurélio, um bicho-papão, um papa-gente, etc.
E, segundo Monteiro Lobato, uma bruxa com as unhas compridas como as de um
gavião.
Como explicar a vigência de uma canção de
ninar tão assustadora se não pelo sadismo dos adultos em relação às crianças?
Um sadismo que predispõe ao masoquismo e cujas consequências podem ser
nefastas. A educação começa no berço, com as primeiras palavras, que tanto
podem abrir quanto fechar o caminho. Isso significa que o educador – seja ele o
pai, a mãe ou outra pessoa – precisa atentar para o que diz. Em vez de fazer
menção à cuca, escolher, por exemplo, uma canção de ninar como a dos Beatles
«Hora de dizer boa noite, dormir … O sol agora apagou a sua luz… Hora de
dormir». Uma canção que associa o sono à desaparição do sol e faz dele um
fenômeno natural.
Ninguém é
obrigado a procriar. A obrigação está fora de moda. Mas quem tiver e não quiser
se preocupar com o filho já crescido, precisa cuidar do mesmo durante a sua
infância com devoção e inteligência, contrariando os hábitos, se preciso for. A
vida não é fácil, e, por isso mesmo, é imperativo evitar dificuldades futuras.
A prevenção é sempre melhor que o tratamento. Nós só esquecemos disso porque
não somos educados para ser felizes e sim para repetir o que os outros fizeram
sem questionar.
[Betty Milan é uma escritora e psicanalista
brasileira.
Autora de romances, ensaios, crônicas e peças
de teatro. Além de publicadas no Brasil, suas obras também circulam com selos
de França, Argentina e China.
Colaborou nos principais jornais brasileiros
e foi colunista da Folha de São Paulo.]
Certos títulos das matérias me chamam
atenção, essa é uma das finalidades deles.
“A
ameaça da canção de ninar.”
Como não ficar curioso?
A Betty transforma uma canção antiga de
ninar em um monstro destruidor de criancinhas saudáveis mentalmente.
Na cabeça da Betty o neném entende
completamente essa letra.😏
É estranho, até os dois anos a criança mal
sabe falar, quanto mais associar tantas ideias e conceitos.
Minha aposta é que o nenê quando ouve uma
canção dessa só sente seu tom relaxante e a voz daquela pessoa agradável que
ele nem sabe que é sua mãe, não sabe conceitualizar essa relação.
Não entende o conceito de família.
Duvido que saiba quem é Cuca ou Monteiro
Lobato.😏
NÃO estou defendendo a letra da música, sem dúvida é de mau gosto.
Apenas acho um exagero, sugerir que ela possa
influenciar significativamente o comportamento da criança no futuro.
E aqui chegamos na principal provocação dessa
meditação.
Se o bebê tem capacidade de entender completamente
a letra “Nana Neném”, tem também capacidade de
entender que é só uma canção de ninar lúdica.
Certas teorias da “psicologia” deveriam levar
em consideração a dialética.
Dialética é um debate onde há
ideias diferentes, onde um posicionamento é defendido e contradito logo depois.
Nesse caso quero dizer que o bebê não pode
ser considerado sábio para entender a letra da música e ignorante para entender
que é só uma canção de ninar.
Vivemos numa época onde “pregam” que “bicho
papão” não existe.
Todo ser humano é naturalmente bom e se
pratica algum mal é culpa da “sociedade a sua volta”.
É o filme violento, a novela cheia de
luxuria, a zoação na escola, o game ... a canção de ninar.
Assim vamos tratando criminosos como vítimas.
O “dimenor”
roubou/matou ... vamos vasculhar sua vida de certo é algum trauma de infância.
Se cantaram “Nana Neném” pra ele ... esta
justificado...
O cidadão
invadiu uma casa, roubou, aterrorizou a família?
Ele nasceu muito pobre, está traumatizado com
a concentração de renda e injustiça social.
Usando a dialética:
Nana Neném é uma
canção comum, todas as crianças em algum momento já ouviram.
A maioria dos pobres NÃO são ladrões nem
assassinos.
Humm ... não importa, todos os pobres deveriam
ser ladrões e assassinos.
O marginal coloca para fora seus sentimentos,
não fica hipocritamente disfarçando como os outros pobres.
Estou exagerando?
Mas é o que parece.
Então o dimenor pode fazer barbaridades que
não fica mais que 3 anos preso (se o crime for gravíssimo).
O dimaior pode pegar até 30 anos, mas se não
cometer nenhum crime dentro do presidio é considerado como tendo “bom
comportamento”.
Tem a chamada “progressão de pena" que
progride mais rapidamente quanto mais dinheiro você tiver para pagar bons
advogados.
Trinta anos viram dez ou menos, com direito a saidinhas e tudo mais.
Não precisa nem ter muito dinheiro.
Vejam o caso clássico do Guilherme de Pádua.
Ficou 6 anos preso.
"Pádua saiu da prisão em 14 de outubro de
1999.
Rompeu com Paula Thomaz e passou a trabalhar na Igreja Batista da
Lagoinha em Belo Horizonte.
Em
março de 2006, casou-se com a produtora de moda Paula Maia, frequentadora da
mesma igreja, 14 anos mais nova."
E a vida segue...
Não consta que Guilherme seja rico.
Na prisão ele não matou nenhuma mulher a
tesouradas então ... teve bom comportamento.
Guilherme de Pádua (e tantos outros criminosos)
são vítimas.
De quê?
Sei lá ... do terror causado pelo Bicho Papão
e o Boi da cara preta!?
“Falta muito para que o
cidadão honesto tenha tanta proteção quanto o criminoso.”
A canção “nana nenê” foi feita em uma época
que “culturalmente” a humanidade preferia educar pelo medo.
Hoje a canção é só uma tradição como "Atirei
o pau no gato.”
Se formos riscarmos da vida das crianças
todas as canções e desenhos “politicamente incorretos” do passado ... acho que
só devemos permitir produções de 2000 pra cá.
Agora com beijo gay e tudo mais... é o "progressismo" ...
😒 “Evidente que sua mãe, como a
maioria, não prestava atenção na letra, mesmo assim esse subconsciente
coletivo escolheu esse tipo de letra, com tantos outros (em maior número) pra
escolher.
Essa predileção "inconsciente" (repito) precisa de outra
explicação, já que a da Betty não serve.
(Comentarista)
O mundo lá fora é perigoso, ainda mais para
um bebê humano tão indefeso.
Fora os perigos que temos hoje, no passado
tinha mais animais selvagens.
Uma onça é um “bicho papão”.
ERA ACEITÁVEL COLOCAR UM CERTO MEDO NA
CRIANÇA PARA ELA NÃO SAIR DE CASA OU DE PERTO DOS PAIS.
Com minhas filhas sempre fui realista.
Moramos em apartamento, instalamos telas, mas
mais que isso.
Falava para minhas filhas claramente que se caíssem
lá embaixo iriam morrer.
Minhas filhas já adolescentes sempre digo
para tomarem cuidado ao ficar sozinhas com um homem em local que não podem
pedir socorro.
O estupro pode ocorrer por pessoas bem
conhecidas.
Falava para minhas filhas que “homem do saco”
não existia, mas existe pessoas que sequestram crianças.
Enfim.
Para uns sou um pai “frio, insensível”.
Eu sou o pai que acho que devo ser, mas estou
aberto a críticas.
(A decisão final é minha.)
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