“Não se pode amar quem não se conhece.
Ainda que seja um conhecimento superficial,
ainda que seja conhecer de longe, como acontece com pessoas que se encontram
pela web, é necessário um mínimo de conhecimento para se manter qualquer tipo
de relacionamento pessoal com alguém.
Com Deus é a mesma coisa.”
O conhecer não se transforma automaticamente
em amor.
Por vezes conhecendo superficialmente uma
pessoa ficamos encantados, mas ao aprofundarmos esse conhecimento o encanto
acaba ou fica bem reduzido.
É como paquerar ou ficar com alguém em uma
festa, e depois namorar de fato.
O namoro é importante para conhecermos melhor
a personalidade e avaliarmos se um casamento pode dar certo.
Para conhecer o “Deus de Abraão” um bom meio
é ler a Bíblia, mas se só lermos aquelas partes de um Deus maravilhoso que o pastor
ou padre seleciona temos um conhecimento superficial.
No caso das religiões muitos pulam a etapa do
namoro.
O líder religioso diz que Deus de Abraão ama o
indivíduo e ele por meio da fé se entrega de corpo e alma.
[Nessa meditação NÃO estou falando daquele conceito
mais amplo de divindade que cada religião tem.
O ponto de partida desse texto é a parte
citada do Blog Sombra do Onipotente.
É um Blog evangélico, então estou falando
especificamente do deus descrito na Bíblia.]
Tem certeza que conhece bem o deus descrito
na Bíblia?
Então me diga:
O Deus de Abraão é contra ou a favor da
escravidão?
Pelo que vemos nas escrituras ele é a favor.
Deus permitiu que os judeus ficassem escravos
no Egito.
Não é que Deus apenas deixou rolar, ele agiu
para que acontecesse.
Para quem não sabe ou não lembra a história
vou fazer um brevíssimo resumo.
José (NÃO
aquele que casou com Maria) tinha um
problema familiar com seus irmãos mais velhos (inveja, ciúmes) a ponto de
agirem para que ele fosse preso.
Deus de Abraão gostava de José, mas não fez
nada para impedir que os irmãos agissem contra ele, deixou rolar.
Deus
gostava tanto de Jose que lhe deu o dom de interpretar sonhos.
Isso segundo a Bíblia é proibido, mas quando
Deus escolhe alguém, lhe dá o que quiser mesmo que seja algo que
afronte a lei judaica que ele mesmo estabeleceu.
Pois bem, vamos para os finalmentes, quem
quiser detalhes vai ler a Bíblia 😊.
José interpretou o sonho do Faraó dando-lhe uma informação
valiosíssima.
Choveria normalmente por 7 anos, depois
ocorreria 7 anos de seca.
Essa informação foi omitida de outros povos
como os judeus.
Por 7 anos o Faraó estocou alimentos para
aguentar os 7 anos de seca.
Ocorreu o óbvio, chegou um momento que apenas
o Faraó tinha comida.
Isso obrigou os judeus a conviverem numa
situação de dependência dos egípcios e mais tarde cativeiro.
Entenderam?
Na Bíblia não encontramos (eu não encontrei)
nenhuma ofensa relevante do povo judeu a Deus de Abraão que fosse digno de
tamanha punição.
A treta de irmãos de uma única família, que
Deus poderia ter impedido se quisesse, foi a razão para todo povo judeu virar
escravo.
Quando fui católico não lia a Bíblia ... diretamente.
Ao chegar para missa, na entrada tinha um
folheto impresso com o roteiro.
Alguém (acho
que o padre) pré selecionava o que
iriamos ler.
Mais que isso, temos que aceitar sem questionar,
a interpretação que o padre der da passagem bíblica em destaque.
Quando fui para igreja Presbiteriana não
tinha o roteiro impresso, mas o palestrante igualmente selecionada a passagem que
seria lida na Bíblia.
Sua interpretação do que estava escrito era o
que valia.
Tanto o padre quanto o pastor tem liberdade
de oratória limitada a doutrina.
Quero dizer que eles podem “enfeitar” o culto
com histórias paralelas desde que não vá contra o que aprenderam no curso de
padre/pastor/ancião.
Estou trazendo esse detalhe para o leitor
entender que o palestrante não fala o que fala necessariamente de má fé.
Geralmente é o que realmente ele acredita,
foi o que aprendeu no curso e simplesmente repassa.
Se você acha que conhece bem o Deus de Abraão
porque vai muito a igreja e presta atenção no culto ... é um conhecimento
superficial com ilusão de profundidade.
Já estive nessa situação.
Na igreja Presbiteriana éramos incentivados a
ler a Bíblia.
[Estou falando da comunidade que frequentei
no Jardim Nova Europa, mas fazíamos visitas a outras comunidades, recebíamos outros
palestrantes, acredito que as diferenças não eram expressivas.]
Era sugerido estudar a Bíblia em casa pedindo
a orientação do Espirito Santo.
Poderíamos abrir a Bíblia aleatoriamente, ver
o que Deus tinha para nós naquele dia e qualquer dúvida falar com os presbíteros.
Veja que é um treinamento para aquela
doutrina.
Exemplo rápido e fácil.
Na doutrina Presbiteriana, Maria é especial por
ter parido Jesus, nada muito mais que isso, Deus de certo escolheu uma mulher
de excelente conduta.
Na doutrina Católica, Maria é especial
elevada a santidade de realizar até milagres.
É a mesma Maria, com interpretações
diferentes de acordo com a doutrina.
O pastor/padre apenas repetem o que aprenderam.
Para não complicar NÃO vamos trazer para essa
meditação sentimentos ... “sua experiência pessoal com Deus.”
Vamos nos manter “técnicos”, “pragmáticos”.
Não achei pratico ler a Bíblia de maneira aleatória.
Preferi seguir a sequência dos capítulos como
faço com qualquer outro livro.
Do começo ao fim li duas vezes.
Na primeira quando fui evangélico, pedindo a
iluminação do Espirito Santo e tirando as dúvidas na escola dominical.
Na segunda quando parei de frequentar a
igreja e fiz uma análise filosófica.
Quis conhecer tecnicamente o Deus de Abraão
por mim mesmo e não pela interpretação de alguma doutrina.
A conclusão que cheguei é que não dá para
amar o deus descrito na bíblia.
É para se ter medo, muito medo.
Instável, faz o que lhe dá na telha, bênçãos incríveis
para uns, provações terríveis para outros.
De certo, “amor” e “justiça” não são o que norteiam
suas ações.
Sobre a escravidão dos judeus, nas missas e
cultos vão destacar o “deus bom” que libertou o povo e puniu os egípcios.
Oh, Glória a Deus!
Se lermos a Bíblia veremos que tudo começou
com Deus deixando rolar uma treta de família.
Abençoando grandemente os egípcios com
informações privilegiadas.
E dando grandes provações ao povo de Israel
sem nenhuma justificativa plausível.
Meu Deus!!
Quando eu li que Deus não interferiu quando
as filhas de Ló o embebedaram e transaram com
ele, ficou claro para mim que o aceitável para Deus de Abraão vai muito além
daquelas passagens selecionadas pelo padre ou pelo pastor.
Por vezes é preferível a ilusão de um paraíso
que constatar uma realidade infernal.
Se tomar a pílula azul, eu te entendo.
Se tomar a pílula vermelha, eu te entendo.
Ao me conhecer melhor não espero que me ame,
não desejo que me odeie.
Se conseguir me entender já estou satisfeito.
Como é minha realidade?
Boa para quem quer se aproximar da verdade,
infernal para quem prefere o conforto da ilusão.