segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tons de Cinza

 “Eu não faço amor, eu fodo com força.”
[50 Tons de Cinza]

Christina Autran: Partindo do ponto básico da filosofia “nelson-rodriguiana”, a mulher realmente gosta de apanhar?

Nelson Rodrigues: Isso é o óbvio ululante.
  Evidentemente, quando eu digo que a mulher gosta de apanhar, não quero dizer apanhar a toda hora, a todo instante e de todo mundo.
  Ela gosta de apanhar do ser amado.
  Mas é claro que, quando eu digo que a mulher gosta de apanhar, não me refiro a todas as mulheres, me refiro somente às normais.
  A mulher neurótica reage.


  Gostava de ler Nelson Rodrigues não por necessariamente concordar com suas proposições, mas pela maneira como ele escancara seus pensamentos algo tão parecido comigo.

  Não noto que toda mulher gosta de apanhar, acredito que Nelson também não pensava assim.
  Muitos filósofos usam o recurso do “exagero”.
  O interlocutor tem uma maneira de pensar, você joga ele no extremo oposto e durante o debate ao tentar te demover do radicalismo ele chega exatamente onde você queria ... enxerga o outro lado da coisa que até então não existia na mente dele.

  Exemplo:

  O indivíduo acredita que ninguém gosta de apanhar e por consequência quem bate é sempre o vilão da coisa.
  O pensador exagera dizendo que todo mundo gosta de apanhar.
  Acontece o embate, o pensador já está preparado para ceder no “radicalismo”, e quando faz isso leva o interlocutor a ceder também.
  No final o pensador fica na posição que sempre esteve, o radicalismo foi só teatro, e o interlocutor “avança” no entendimento.
  Prefiro o método “Socrático”, mas esse método do exagero que percebo em muitos pensadores ... é interessante.


  Voltando ao tema...

  Muitas mulheres gostam de apanhar, não todas, nem a maioria.
  (A maioria gosta mesmo é de bater 😄)
  Não gostam de apanhar de qualquer um, só do homem pelo qual elas tem interesse.

  Lembrei que Sigmund Freud foi ainda mais “politicamente incorreto” que Nelson Rodrigues.
  Freud falou de um desejo inconfessável da mulher em ser “estuprada”.
  No entanto devemos ter cuidado para não confundir isso com uma proposta de crime.
  O que Freud quis dizer é que a mulher quer que o seu homem a deseje intensamente a tal ponto que se preciso for a tome a força, é evidente que a mulher quer isso com alguém que ela deseje também e não com qualquer um.

  Uma colega do passado dizia que não se importava em ser encochada no ônibus apertado o que a revoltava é que só os "mal-acabados” fazem isso.
  Foi hilário ela contando da vez que viu um tremendo gato subindo no ônibus, rezou para ele se esfregar nela nem que fosse um pouquinho, prece feita, prece atendida, naquele momento ela subiu aos céus... 😄

  A grande maioria das mulheres heterossexuais querem que seu príncipe encantado seja encantado perante a sociedade, mas a sós quer um garanhão, alguém que a possua como se ela fosse a coisa mais importante e desejada em sua vida, que ele não se importe nem com o “não”.
  Mulheres gostam do homem que tenha “pegada”, que a deseje bastante e seja homem o suficiente para “forçar” uma situação, vamos entrar por essa brecha quente e úmida... 😄 (essa foi “Praça é Nossa” eu sei.)

  Porque “Cinquenta Tons de Cinza” fez tanto sucesso!?

  Não é o tipo de leitura que gosto (romance), não li e provavelmente não irei ler.
  Sei do que se trata devido ao sucesso de vendas, é uma relação de sadomasoquismo “leve” onde o homem é o dominador e a mulher a dominada.

  A provocação para esse texto veio dos debates sobre esse livro.

  Vejam mais duas passagens do livro:

  “Beije-me, droga! imploro a ele, mas não consigo me mexer. Estou paralisada, com uma vontade estranha e desconhecida, totalmente encantada por ele.”
[50 Tons de Cinza]

  “Ás vezes me pergunto se existe algo de errado comigo.”
  [50 Tons de Cinza]

  Já conheci pessoas masoquistas, a maioria eram mulheres.
  Nessa parte o livro é fiel as minhas observações.
  A mulher é humilhada, não raro apanha e continua totalmente encantada com o sujeito.
  Elas tem compreensão da situação e se perguntam:

  “O que há de errado comigo!?”.

  No livro o cidadão é bonito, tem muito dinheiro.
  Porém, eu nasci em família pobre, continuo pobre, meu círculo de conhecidos não é da alta sociedade.
  Já vi isso acontecer muito no meu mundinho (baixa sociedade).
  Aposto que muito leitor já conheceu aquela moça apaixonada pelo que chamamos fácil de “troglodita”.

  E aqui acredito que chegamos no ponto que Nelson queria desde o início.
  Quem defende que nenhuma mulher gosta de apanhar, provavelmente agora tem dúvidas ... esse é o ponto de partida para “filosofia”.

  “Não posso ensinar nada a ninguém, só posso fazê-lo pensar.
[Sócrates]



  












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10 comentários:

turbilhão 1.035 disse...

Bom dia ao sr.!

Da primeira parte do texto,eu lembro,pois na época,repliquei com a história da "ficada" entre Lêda e o Cisne,na saga Ilíada,aventura essa que originou quatro superfilhos para Lêda.
Mas acho que isso foi uma invenção da Helena(um desses jovens),para se autopromover.(rsrsrs...)

Na entrevista com o Nélson Rodrigues,surpreenderam-me essas palavras,
"_a mulher precisa de um amor autêntico,irreversível,definitivo,profundo...
E como isso falta às mulheres modernas,elas são infelizes."

Em que planeta vivia esse senhor?
Nunca um amor "autêntico e profundo" foi perene e irreversível.
O romantismo, culturalmente,é uma construção recente.
Provavelmente,já existia em histórias numerosas,mas como instituição cultural,é quase uma novidade.
Originalmente,o casamento foi uma solução comunitária para a formação da família,e para a divisão das tarefas.
Ele não visou em primeiro lugar,favorecer o "amor extremamente romântico".

Acho que como mulher,o sr.Nélson realmente viveria desejando esse tipo de romance.
Muitas de nós,nos apavoramos com a idéia.
Um grande número de meninas(mulheres jovens) não querem saber de casamento,por medo de tal simbiose.
Eu já desejei saber como é esse tipo de amor,e quase perdi minha bússola,quando fiquei sabendo.
Despertei desse sonho(ou pesadelo) rapidinho.
Decidi que a vida- em seu todo inconsútil,é bem melhor.
"Romances encantados" são bons,por algum tempo,como um tipo de confirmação "dos valores do corpo".(isso vale para os dois envolvidos no namoro)
A relação entre almas gêmeas- que é um pouco melhor do que o tal "amor profundo",outrossim,é um risco,se ambos os tipos não forem "budas"(ou ágapes) na época do encontro.

Enfim,Nélson,e outros pensadores machistas,vêem o amor como algo fechado,onde o sentimentalismo,é circular,e não se abre para o mundo,nem para as responsabilidades.
Mas,os lagos foram feitos para permitir a navegação pela superfície-e não foram feitos para morrermos afogados neles.

"Desde os velhos tempos",sei que o amor é sempre "para alguma coisa ou para alguma causa".
Por isso,sua tendência,à medida que o tempo passa,é parecer cada vez mais ralo,e mais suave.
Digamos que quem nunca sai da fase sentimental que alguns imaginam ser nosso sonho feminino,não pode ter filhos.
Já que cuidar deles,é uma tarefa assertiva,que exige objetividade,e uma grande capacidade de relações assertivas com todos ao redor.
E quem não supera-ou não quer superar, a "fase extremamente erótica do romance",na verdade,é uma criança- incapaz de enfrentar o mundo.

Apenas lembrarmos que as pessoas nascem,crescem,e vivem para as relações cívicas,e não para uma autofagia,desmonta as teorias a respeito da "inferioridade feminina",porque os que as pressupõem,psicanaliticamente,nos imaginam tão primárias quanto infantes de menos de seis anos de idade,que jamais superaram os primeiros apegos.
A um só tempo, é fácil julgar que possuímos um sistema nervoso,e um cérebro adequados à tal natureza,o que equivaleria a dizer que somos algo semelhantes a elementos limítrofes(que são quase retardados).
Mas,isso não acontece.
Qualquer uma de nós rende incansavelmente,em todas as tarefas.
Podemos ter umas dificuldades a mais,mas uma vez superados tais entraves,rendemos em certas tarefas quase tanto quanto,...porque somos obsessivas-e porque facilmente nos apaixonamos pelas causas existentes.

Os problemas que ele via em nós,nessa época,se deviam ao sentimento de mal estar das primeiras singularidades que na nossa "raça",apareceram.
Os melindres dos grupos,e das "minorias" são muitos,mas tendem a ser equacionados com o tempo.
Nós- mulheres,homens,e seres viventes,precisamos de infinita autocrítica,e de renovarmos sempre nossos sonhos,para encontrarmos uma satisfação em nossos "papéis".
O sr.Nélson se esquecia de olhar para si mesmo.
Tampouco os homens da época dele,foram modelos de felicidade.
Muitos,até caíram no alcoolismo.

segue

1.035,parte 2 disse...

Os outros machistas,são menos sofisticados do que o Nelsinho.(kkkk!...)
Eles nem imaginam para nós mulheres,uma mentalidade de um limítrofe,mas nos vêem como bem próximas aos animais,aparentemente destituídos de almas.
Não dá para levar a sério.
Eu nem me preocuparia em criticar o tal rabino,se eu fôsse judia.
Muitos,ainda encaram as coisas,como ele,seja por nunca terem nos percebido como somos,ou seja por frustração com suas mães.

Esse texto ficou "intelectualizado",arara...
e araras não são necessariamente fêmeas.
A classificação é só uma palavra para designar um grupo de aves vermelhas.
Acho que os pássaros de algumas espécies se casam.

Arara...(hahahaha!)

Um bom dia a todos,e até breve.

O sol (masculino e feminil) brilhabndo no céu,nos convida a uma vida de autoafirmação...pois a hora das sublimações,já se foi.

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Sr.William... disse...

...eu não analisei tanto assim ao sr.Nélson.
Eu comecei a filosofar sobre a concepção de "amor absoluto,e fechado em si mesmo".
Esse texto vai ter uma continuação.

Releia a réplica,verá que comentei ao que o sr.falou,mas com outros termos.
As religiões abraâmicas documentaram os primórdios das relações matrimoniais,e da formação da sociedade,e nesses primórdios,a concepção mais romântica das relações,acabou sendo desenvolvida.
Ela se baseou no pressuposto da inferioridade espiritual de uma das partes,ou mesmo no pressuposto da "inferioridade para todos os gêneros",uma vez que um contato entre dominador e dominado,supõe uma necessidade de simbiose mútua(ou de uma fusão exagerada)
Pois se o "inferior" não existisse,o "superior" não poderia ter seu lugar de confirmação.

Não repare.
Certos temas costumam me jogar numa espiral.
Precisará me acompanhar nessa viagem.(hehehe!)

Ela irá alterar a idéia de alguns pentecostais,isso,se eles entenderem alguma coisa.
Lembre-se que sou uma diletante sobre temas amorosos.

William Robson disse...

“Eu aprendi uma grande lição aquele dia.
Nós homens é que somos os maiores submissos na relação com as mulheres.”
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O que eu posso dizer? Você é pouco experiente na cama.
Qualquer homem que já saiu com varias mulheres sabe que algumas gostam de apanhar forte mesmo, não confundir com ser espancadas.
Muitas mulheres que estão nos lendo devem ter rido da sua ingenuidade.
Duvido que uma mulher por volta dos 30 anos nunca tenha conhecido uma amiga que sente enorme prazer em levar tapas na hora do sexo.
Você fez certo em testar, estas coisas não vem escrito na testa.
Porque esta garota não sentia prazer desta maneira não quer dizer que outras não sintam.

Veja exemplos:

PASSEANDO

turbilhão 1.036 disse...

Eu ia mesmo fazer alguns acréscimos ao texto que escrevi de manhã,e sua "crítica",me incentivou mais a isso.
Tente esquecer que falei sobre o sr.Nélson.
Verá que usei o personagem,e os pensamentos dele,como desculpa,para comentar sua idéia central.
Grande parte dos escritos,foi o conjunto desses comentários.(isso ficou visível)
Mas,foram feitos a partir de "outras lentes".
É como se eu entrasse numa festa,não pela porta da frente,mas de pára-quedas.
Comecei o tema "pelo fim".
E usei para isso,o "esquema do amor profundo".
Historicamente, os modos de vida construíram os clichês de inferioridade e de superioridade dos gêneros,das classes,e das raças.
Acho que fica fácil para quem "é simples" entender que se um desses clichês for desativado,os outros também não existirão.
Pois eles são dependentes entre si.
Então,o mito da inferioridade de alguém,desaba nessa simples análise.

Culturalmente,nós mulheres nos acostumamos à subalternidade.
Os esquemas comportamentais que existem,alimentam afetos específicos,e "desejos escondidos".
Dão vida a amores de certa valia.
Esses amores tem a sua beleza,mas seriam considerados casos específicos,se nossos condicionamentos fôssem outros.
O destino deles,será quase igual ao do "culto ao sofrimento".
É bom que continuem existindo,para os mais carentes,e para os carentes de estabilidade.
Os pares e os afins,devem se encontrar e se entenderem.
Mas,é preciso que fique claro para eles,que eles vivem "ilusões necessárias".
As religiões nos subestimam,porque foram inventadas na época da dominação bruta da terra,e do meio ambiente,quando não havia outro jeito,senão uma divisão desumana das tarefas.
Os dois gêneros sofriam bastante.

Atualmente,aqueles hábitos antigos,ainda se mantêm.(hábitos das religiões).
Não fiquemos ressabiados,porém.
As pessoas seguem essas religiões,apenas na palavra e na aparência.
Como eu disse tempos atrás,muitos de nós brasileiros,não nos interessaríamos pelo sagrado,se não estivéssemos com problemas em nossas vidas,ou se não os temessemos.
Não estamos realmente dispostos a "deixar a teofania crescer" e queremos algo que nos dê uma sensação de amparo,sem desistirmos de um modo de vida que nos parece razoável.
No islamismo sim,as coisas são "levadas ao pé da letra",e assim mesmo,não no islamismo praticado aqui no Brasil.

Sr.Buda,no começo,não quis admitir a presença feminina no sangha,e o motivo era que caso isso ocorresse,os monges iam começar a se casar.
Não vejo essa opinião como uma discriminação,pois isso poderia mesmo acontecer,e não seria pecado nenhum.
Mas, prejudicaria o ideal budista.
Ao menos,por um tempo,era preciso que monges e monjas se mativessem mais isolados um pouco,se esse era o desejo deles.
Outros grupos-com outras preferências,poderiam aparecer depois,quando os primeiros já estivessem com sua existência ideológica assegurada.
Mas, seria um mau exemplo,rejeitar nós mulheres a vida toda na igreja.
Ele sabia que nós tínhamos a mesma possibilidade de atingirmos a iluminação,que os homens.
E nos admitiu,exigindo de nós a obediência a regras,que na época,colaboravam para nossa segurança.

Do que eu não gosto,é dessa confusão intelectual em que as pessoas começaram a viver.
No mundo normal e laico,somos todos iguais,mas não valorizamos a laicidade do mundo,e ficamos sonhando com um tempo em que as coisas eram diferentes,e também com relações exageradas.
Isso pode comprometer futuramente,de forma séria,a ética e a percepção.
E causar uma involução em nosso entendimento do "mundo exterior".

segue

1.036,parte 2 disse...

Os evangélicos,daqui a pouco,dominarão o conhecimento universitário,e não se sabe as distorções que eles poderão criar.

Desculpe haver começado de manhã, o assunto "de trás para frente".
Não foi minha intenção,é que o caso foi mesmo esquisito.
Ando um pouco cansada-e necessitando encontrar clichês que me ajudem a verbalizar melhor.
Todavia,gostei de falar sobre o refinado machista Nélson Rodrigues.
E achei histriônico mencionar religiosos que vêem a nós mulheres,não como mulheres,mas como fêmeas "pré-racionais".
Porque a visão séria que os escritos antigos levam os leitores a terem de nós,remete à limitrofia.
Nem consigo levar a sério.
Eu garanto ao sr.que quase ninguém também leva a sério.

Acho que finalizei o tema,conseguindo comentar bastante a Sua crônica.
Concordo que a sequência desses dias,realmente,foi importante,foi "de tirar o fôlego".
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Mencionei o romance "Cinquenta tons de cinza" num texto antiguinho,no espaço da Futuro,e opinei com um"não vi não gostei".
Sou um pouco indiferente a certos temas.
O "altar" onde eles estão em minha rotina atual,é apenas um lugar de ficar,e não de idolatria.




Daniel disse...

Mandei o seu texto e o meu comentário, por email, para no mínimo 10 mulheres, inclusive para quem vivenciou isto comigo a uns 2 anos.

Três delas pensaram diferente de você, que foram as que me respostaram, e me deram razão por aquilo que eu disse.
Mas, convenhamos, eu não preciso provar para voce se tenho pouca ou muita experiencia de cama, não é mesmo?

Eu já fui várias vezes a puteiros. E as que estão ali realmente podem se enganar e dizer que gostam sim, de apanhar porque estão sendo pagas. Mas este prazer leviano jamais consegue se sustentar numa relação normal de casado, porque o esposo tem que se superar é por outras qualidades, tem que se mostrar surpreendente por outras características, porque a esposa não vai querer chegar aos 50 lembrando de como batia na sua poupança, aquele moço.

Acho que menos experiente aqui é você, que supõe saber algo sobre as mulheres.

Daniel disse...

Somente as mulheres que não tem consciência do que esperam para seu futuro é que podem querer ser surradas na hora da transa, e eu já dei varias tapas e bati mesmo, porque também desfiz a três casamentos, e fui uma ilusão na mentalidade destas três senhoras quando ainda casadas gemiam quando eu as 'espancava' de modo carinhoso na cama.

Mostrei à elas um prazer estranho, um prazer que não tem sustentabilidade porque não há como uma mulher se ver interessada bastante tempo em um inescrupuloso canalha, porque como você faz com uma é fácil que ela saiba que você faz com todas.

Então, e moral da história: não é isto que eu nem ninguém pode querer para uma vida de casado.

PS.: Uma me confessou que jamais fez oral no marido!

turbilhão 1.037 disse...

Vou contar uma historinha feminista.

Indo a um supermercado outro dia,adquiri o exemplar de uma dessas revistas de empresa,que mostram exemplos de cidadania,e os "pequenos heróis" do cotidiano.
Parei numa página que contava sobre "recomeços".
Uma jovem,parecendo não ter mais que vinte e oito anos,apesar dos quarenta,mencionou sua formação universitária,seu casamento,e disse haver abandonado uma profissão bem sucedida,para cuidar dos filhos.
Agora,conseguiu de novo,um emprego no "alto escalão" de uma firma.

Espantou-me o tom usado por ela,dizendo-se "agradecida pela chance que o mercado de trabalho lhe deu novamente".
Parecia uma ex-presidiária falando.
Mulher de classe média,caso não conseguisse novo emprego,abriria negócio próprio.
E querer cuidar exclusivamente dos filhos,enquanto são pequenos- é um desejo correto.
Como uma pessoa pode se culpar,por haver assumido uma responsabilidade?

O caso me pareceu meio bizarro.

Enfim,nós mulheres continuaremos submissas por um tempo ainda,porque é um costume nosso.
Chegamos a nos sentir culpadas,por querermos o que é certo.
E isso gera confusão.
Se constituímos famílias,e não nos ocupamos delas direito,nos sentimos mal.
Se fazemos isso,nos sentimos mal também.
Ficamos com medo dos nossos conhecidos nos chamarem de palermas.
E tememos a discriminação das empresas,caso futuramente,queiramos nos recolocar em alguma delas.

Mas criar os filhos,é um serviço prestado à sociedade,a qual aliás,se organizou,justamente para favorecer o amparo aos que precisam.
Essa também,é uma premissa das sociedades liberais.
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O tema mais ...digamos...particular de vsas,está me gerando idéias.

A preferência ostensiva de tantos por uma "paixão candente",a mim,sempre me pareceu uma solução para a frustração antiga.
Um "grande enlace simbiótico" é a reprodução do "romance infantil",no qual existe a ilusão de uma fusão perfeita entre os seres.
Quando aconteceu uma chateação (geralmente,não lembrada) nessa época,especialmente nós mulheres,crescemos com alguns "desejos inconfessos"-

Se esse "problema" for falado um pouco mais na mídia,pelos fróidianos(psicanalistas,conselheiros sentimentais,e assemelhados),muitos casamentos ruins deixarão de ocorrer.
Porque é uma sorte quando certos desejos são vividos de uma forma lúcida.
Muitas(e muitos)os tem,mas não percebem,ou fantasiam que eles são uma "outra coisa".
E arrumam parceiros(e parceiras) que irão realizar tais fantasias.
Mas,uma vez que não há uma admissão formal do que realmente se quer,também não haverá controle sobre os meios de se realizar isso.
Aí,algumas se casarão com psicóticos,e alguns se casarão com bipolares,bordelines,ou com gastadoras compulsivas.

No fundo,esses coitados tem o desejo de bancarem os mártires,mas reprimem a consciência disso,em nome do "politicamente correto" exigido pela sociedade.
Aí,ao invés de encontrarem pares que desejam o papel contrário,mas que na verdade,são pessoas em equilíbrio que aceitam boas brincadeiras,eles encontram gente ruim de verdade.
E muitas vezes,acabam sendo seus alvos fatais,pois pensam que tudo o que estão vivendo é um mero jogo,e que o comportamento psicótico do parceiro(a) é um sinal de desvelo.

Eu,Nihil, não aceitei o assédio ingênuo de um coleguinha,antigamente.
Mas muitos e muitas,tem formação para fetichizar,certos tipos urbanos por aí encontrados.
Todavia,tem vergonha de assumirem suas fantasias,e podem então,no mínimo,se unirem a pessoas chatas.
Se seus maridos(ou esposas) são apenas chatos,ainda terão tido muita sorte.

segue

1.037,parte 2 disse...

Os pares ainda aprenderão a discernir entre o que é uma necessidade,e o que é um desejo lúdico.
Isso irá resultar em famílias em maior equilíbrio,sem algozes,e sem tantas vítimas.

Ah,o Nelsinho com seu "amor profundo".
A prosa do ingênuo despertou-me a malícia,e me esclareceu um pouco.
Os valores do corpo e dos afetos,podem ser admitidos,desde que tenhamos garantia de vida,antes,durante e depois da satisfação deles.

Posteriormente,eu irei continuar aquela série de textos Turbilhão,entre os números seiscentos e seiscentos e vinte(março de 2.011),onde falei nas paixões problemáticas.
Farei isso ali mesmo onde a série foi registrada- blog "Filosofia Matemática".
Agora,entendo melhor algumas que precipitadamente,vão detonando suas vidas,em nome das primeiras carências que lhes assomam.
Nem tudo é "projeção",ou nem tudo é um "desejo de ser que nem outra criatura é",motor comum às paixões.
Há também a questão dos "afetos mal correspondidos na infância" e cujas histórias são levadas para a fase madura.

Quem sabe,se muitos "isolassem" esses desejos em si mesmos,pondo-os em quarentena,que nem eu fiz com meus vírus de pc,ontem,as páginas de jornal verteriam menos sangue,diariamente.