domingo, 5 de agosto de 2012

Chagas Abertas


  “O homem que planeja a vingança procura manter suas chagas abertas, caso contrário elas podem sarar e ele, desistir.”
[Francis Bacon]

  Não sei o que me faria manter uma chaga (ferida) aberta, alimentar desejo de vingança.
  Talvez o assassinato de uma filha.
  Caso tivesse certeza do autor do crime e ele não fosse punido pela justiça, arquitetaria algum plano.
   Evidente que a vingança só valeria a pena se eu não sofresse as consequências negativas como ser descoberto e preso.
  O crime deveria ser próximo da perfeição ... vamos mudar de caminho, não quero nem pensar em tal tragédia.

  Algo menos doloroso e mais “construtivo”.

  É ineficiente “querer dar o troco” (se vingar) por qualquer coisa desagradável que aconteça.

  O cara te fechou no trânsito você corre atrás e fecha ele também.
  Fulano foi desonesto você paga na mesma moeda.
  Sofreu discriminação, também vai discriminar.

  Não seja radical, não estou sugerindo deixar tudo pra lá.
  Estou propondo que antes de aplicar o “olho por olho, dente por dente”, pense por um minuto se realmente vale a pena.

  Me veio à mente o caso surreal do Deus Bíblico.
  Um casal comeu um fruto há tanto tempo atrás e o pecado atingiu toda a humanidade mesmo os que não comeram!
  Essa chaga é mantida aberta até nossos dias.

  Tem um comercial de TV o qual gostei muito do bordão:
  DESAPEGA!
  


  

  Se eu pudesse falar alguma coisa para o deus bíblico:

   Deus de Abrão, desapega meu rei!
😄


  Sei lá!
  Tanta água já passou debaixo da ponte.
  O “engraçado” é que a mesma Bíblia diz:

 “Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.”
[Mateus 5:39]

  Oferecer a outra face diante de um ato de violência é uma medida extrema e geralmente ineficiente.
  O cidadão lhe dá um tapa na face direita daí você fala para ele bater também na face esquerda, acredita mesmo que ele ficará corroído pelo remorso?

  Nesse caso aplicar o olho por olho, dente por dente também pode ser complicado.
  Se a outra pessoa estiver armada, em grupo ou ser mais forte que você bater no rosto dela só vai acirrar uma briga que você tem tudo para levar a pior, nesse caso é melhor correr ou simplesmente tentar ao menos se defender.

  Entretanto se medidas extremas existem é aceitável que dependendo da situação sejam utilizadas.

  A pena de morte por exemplo é uma medida extrema, mas diante de uma mente que não tem o menor respeito pela vida do outro...é uma medida extrema aceitável, lamentável, mas aceitável.

  Se você fez algo muito errado prejudicando/magoando profundamente outra pessoa, por vezes nós mesmo achamos justo que apanhemos.
  Sua mãe te pega usando crack ou roubando, é uma situação muito decepcionante, é melhor apanhar calado.

 Enfim, entre 0 e o 100 há 99 números inteiros e infinitos números decimais.

  Temos muitas opções antes de chegar ao extremismo do “olho por olho” ou de “oferecer a outra face”.

  O cara fechar você no trânsito te atrasou em 30 segundos correr atrás dele pode custar 15 minutos ou mais, provocar acidente maior, acontecer uma briga que irá acabar no cemitério ou delegacia.
  Por mais irritante que seja, ignorar a fechada e seguir seu caminho é mais eficiente.

  Há pouco tempo presenciei uma cena:
  Uma mulher estava reclamando para um supervisor a respeito da segurança que “teria” fechado o portão da empresa 1 minuto antes do horário, a mulher fazia questão de um registro escrito e alguma punição ao trabalhador.
  É um portão de entrada de veículos que fecha as 19 horas a outra entrada fica há uns 500 metros e fica aberta 24 horas.
  Um minuto seria mais que suficiente para a reclamante se dirigir a outra entrada e seguir o seu caminho, mas ela preferiu tentar ferrar a vida de outro trabalhador como ela!!
  A mulher que se dizia tão atrasada perdeu pelo menos mais 30 minutos levando a cabo a reclamação...

  Na complexidade da vida é difícil não sermos machucados, mas a cicatrização da ferida e a profundidade do ferimento depende muito de como agimos.

  Se mantemos as feridas abertas ou deixamos que o tempo e o bom senso as feche.

  



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