segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Entrando na Selva

  




   “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Vosso nome.

   Venha a nós o Vosso Reino.

   Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu.

  O pão nosso de cada dia nos daí hoje.

  Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.

   E não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal.”

     (Jesus Cristo, Mateus, 6:9-13)




  Na oração do Pai Nosso, Jesus não nos sugere pedir muita coisa. ​​
  Simplesmente recomenda aceitarmos a vontade de Deus e agradecermos pelo pão:

“Que seja feita sua vontade; nos daí o pão de cada dia.”

   Mas o pedido que analisaremos nesse texto é esse:

“Não nos deixei cair em tentação e livrai-nos do mal”.

  Hoje sou um homem sem Fé, mas não foi sempre assim, isso aconteceu lá por 2007.
  Era muita oração para pouco resultado.
  Já contei como foi o dia decisivo, vamos caminhar algumas casas depois da virgula.

  Como demônios podem agir tão efetivamente em nossa vida?

  Vou usar a palavra “demônio” porque pela nossa cultura serei melhor entendido, mas é evidente que não sei como definir essas coisas, só sei que até para coincidências tem limites.
  As coisas davam errado mais que qualquer probabilidade matemática.
  No entanto para aproveitar esse texto:

1 - Não pensem apenas em entidades influenciando nossas decisões; questionem as decisões que tomamos por nossa própria conta e risco.

2 - Questionem a qualidade de nossas escolhas diante dos FATOS.

 
  Confesso que em 2007 não parti para um plano B, simplesmente desisti de lutar, não estava dando nada certo mesmo, para que desperdiçar energia?

  Eu lutava para subir a “montanha” quando estava a ponto de conseguir algum resultado satisfatório era jogado de volta a base.
  Vejam o caso da Faculdade, no quarto ano apareceu uma viajem imperdível para a Itália, era “pegar ou largar”, tinha tudo para ser a grande oportunidade da minha vida.
 Eu não tinha grana para trancar a matricula na PUC, mas quando eu voltasse dinheiro não seria um grande problema ... era o que eu acreditava.
  A viagem e estadia foram totalmente pagas pela empresa, uma fábrica de armações de óculos.
  Tudo daria certo porque a parceria com os Italianos aumentaria nossa tecnologia e vendas, claro que eu conseguiria um bom aumento ... faltou combinar isso com a realidade.

  Devido à grande pirataria de óculos que ocorreu e ocorre no Brasil a parte das vendas deixou a desejar, o aumento salarial não veio, mas trabalho como sempre não faltou.
  Para implantar a nova linha de produção e treinar o pessoal por vezes tive que trabalhar horas a mais, nem pensem que ganhei horas extras, meu cargo era de “confiança” eu não ganhava horas extras.
  Minha dívida na Faculdade estava impagável, e o tempo para estudar diminuiu bastante, daí eu tomei a “melhor decisão na época”, não conclui a Faculdade:

  "Meu presente e futuro profissional é esta Empresa, com Fé em Deus tudo vai dar certo."

  A empresa foi vendida em 2004, disseram que foi uma fusão, de qualquer forma nada deu certo, todo esforço foi em vão, lá estava eu na base da montanha.

  A necessidade de viajar para Itália não podia ter acontecido um ano depois quando eu já tivesse concluído a Faculdade?
  Isso era impossível para “Deus”, o “Destino”, ou o “Acaso”?

  Para subir alguns degraus era uma luta terrível, para ser lançado no chão de volta era rapidinho, como se alguma força me desse um peteleco.
  Algum acontecimento imponderável surgia e lá estava eu tendo que escalar a montanha tudo novamente.

  Abri um restaurante e tudo que eu ganhava em uma semana ia para o ralo na semana seguinte por fatores totalmente fora do meu controle.
  Meu FGTS e algumas economias foram jogadas no lixo.

  Não tinha mais planos, quem está no chão não pode ser derrubado, se era no chão que era para eu ficar então no chão eu iria ficar.

 Quando fechei o restaurante que tinha me dado tantos problemas, entrei no primeiro emprego que me apareceu, não corri atrás de nada grande, precisava ficar no chão.
  Um serviço de segurança na Rodoviária de Campinas, a princípio parecia tranquilo, ficar andando, dando orientações, era tudo que eu queria, sem grandes responsabilidades, sem brechas por onde demônios pudessem me atacar.
  Mas nem assim os demônios me deixaram em paz, eu atraio trabalho se viesse junto com dinheiro não teria problema, mas só vem trabalho.
  A Rodoviária era um lugar problemático, perto de bocas de fumo e usuários de drogas, como eu era o segurança mais forte e mais articulado todo problema eu era chamado... e como havia problema, eu chegava em casa completamente exausto.
  Desisti do emprego quando depois de uma das discussões fiquei sabendo que dois homens armados estavam querendo saber da minha rotina.
  Os pedintes usavam o dinheiro arrecadado para comprar drogas e uma das minhas funções era impedir pedintes no local, como eu fazia muito bem o meu trabalho, eu ser eliminado passou a ser uma necessidade.
  Até deitado no chão os “demônios” (Dificuldades imponderáveis) me alcançavam!
  Eu já esperava ser destruído, mas ser morto por um traficante, eu que nunca usei drogas... não, isso não... decidi ser destruído em algum outro lugar.
  Não vou escrever sobre isso hoje, mas para maioria dos pedintes que eu olhava era como se visse uma legião de demônios, espíritos/mentes em uma frequência assustadora.
  Lembro de um ter jogado uma caixa de doces no meu rosto e sentenciar:
  “Você vai para o Inferno.”
  Diante daquele olhar cheio de ódio eu abaixei cabeça e disse a ele:
  “Eu já estou.”
  Ele tentou me dar um golpe e eu o joguei há uns 3 metros de distância...

  O problema é que nunca consigo desligar minha mente, só quando durmo, mas nem disso eu tenho certeza.

  No escuro do meu quarto o enigma era:

  Como os demônios fazem para me atingir, deve ter um método, uma brecha?

  Parecia aqueles filmes de areia movediça, quanto mais eu me mexia mais afundava.
  Precisava trabalhar em algo, não poderia ficar em casa.
  Seria a destruição de meu casamento, um homem deprimido e desempregado, que mulher suportaria isso?
  Ao menos meu casamento deveria ser poupado da destruição.
  Consegui outro emprego bem simples, repositor em um home center.
  Claro que tive algumas propostas, mas as identifiquei como “canto de sereia”, minha aposta é que eram as brechas por onde os demônios agiam em minha vida.

  Uma coisa que a princípio parecia boa poderia virar um pesadelo por algum “azar”.
  Eu tinha decidido que deveria controlar todas as variáveis importantes, se uma variável importante dependesse de sorte era melhor descartar a oferta.
  Uma oferta que eu posso contar:
  Meu irmão queria montar uma sociedade onde compraríamos vans para o transporte escolar, nesse período eu ouvi relatos de pessoas que se deram muito bem nesse ramo, minha esposa estava toda animada com o negócio, parecia um ótimo caminho a seguir... mas tudo acontece sempre assim, isso é repetitivo na minha vida, me pareceu um canto de sereia, tudo estava muito claro, muito fácil.
  Transportar crianças é uma tarefa de alta responsabilidade, os demônios podiam me atingir por inúmeras brechas, acidente de trânsito, problema com alguma criança...
  Além do mais meu irmão é funcionário público, tem estabilidade no emprego, para ele seria apenas um dinheiro a mais, se desse certo ótimo, se não desse certo paciência.
  Claro que como era eu que estava desempregado, eu teria que correr muito mais atrás do negócio, percebem?
  Muito, muito trabalho e apenas uma “promessa” de dinheiro.
  Eu já vivi essa história várias vezes.
  A mesma brecha sendo aberta novamente.
  As variáveis principais dependiam de SORTE.
  Competência não seria suficiente, determinação não seria suficiente e orações...eu não orava mais e nem pretendia voltar a orar.

  Antes de 2007 eu orava muito, sempre que aparecia uma oportunidade eu me atirava com toda Fé, era uma porta que Deus ou os anjos estavam abrindo para mim.

  Não posso dar muitos exemplos porque pessoas se sentiriam ofendidas, sei que tentavam me ajudar de boa vontade, o problema não estava e não está nelas está em alguma dinâmica na minha vida.
  A Fé me levava a acreditar que “agora tudo vai dar certo”.
  Era incrível como uma coisa puxava a outra, tudo me levava a tomar uma decisão confiando em uma auxilio divino e quanto tudo estava engatilhado o imponderável acontecia ferrando tudo.

  Hoje quando recebo uma proposta qualquer eu ainda vejo todas as circunstancia se alterando como por encanto, e tudo é muito urgente, “seu momento é agora, “é pegar ou largar” ... eu largo, deixo tudo para um outro momento.
  Cada pessoa tem uma dinâmica de vida o que acontece comigo não serve para você, mas pode lhe sugerir caminhos e possibilidades.
  Cheguei à conclusão que:

  A principal porta de entrada de demônios na minha vida era a Fé.

 É paradoxal eu sei.
 Mas se eu não tivesse tanta Fé em alguma ajuda divina, teria sido mais cauteloso com muitas decisões.
 Hoje eu praticamente descarto toda grande variável que envolva sorte, é por ali que os demônios irão me atacar e eu sou impotente para combatê-los...

  Não cair em tentação depende muito de nossa força de vontade, mas mesmo resistindo, isso não é suficiente para nos livrarmos do mal, infelizmente.








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