sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A Segunda Voz



  "PERDER TEMPO desagrada mais a quem mais conhece o valor do tempo."
     [Dante Alighieri]



  Praticamente tudo que olho me grita alguma coisa.
  Para tudo tem aquele grito mais alto, mais provocativo.

  Não que a qualidade do texto ou profundidade filosófica tenham ligação diretamente proporcional com a altura do grito.

  Vozes sufocadas em minha mente já produziram bons textos.

  Quando vejo uma imagem antiga, foto ou filmagem de um acontecimento real, a primeira voz, o grito mais alto e repetitivo é que aquela pessoa já deve estar muito velha ou morta.


  Pegue a foto de uma pessoa por volta dos 30 anos andando na Avenida Paulista em 1910.
  Hoje essa pessoa estaria com mais de 130 anos, não temos notícia de alguém com essa idade.
  No entanto, na foto ela está ali tão saudável, tão forte, tão cheia de "compromissos importantes".

  A segunda voz, aquela sufocada pela primeira, é o de minha própria finitude.

 As chances de eu estar vivo em 2100 (próximo início de século) não são nada animadoras, nossa ciência precisaria fazer uma grandiosa descoberta.
 No entanto 2100 parece algo tão próximo, um número tão pequeno diante da idade do Universo.

 Estima-se que o Universo tenha 13 Bilhões de anos, o que são dois mil e cem anos da era cristã!?
 Se alguém em 2100 olhar para minha foto firme e forte de agora, uma foto do início do século pensará:

"Esse homem está morto."

  Para mim, William Robson, minha vida é eterna enquanto dura, mas o Filósofo que existe em mim diz que sou uma breve centelha, um fogo de brasa que logo se apagará.

  Na “imaginação” tenho muita vida, muito tempo.
  Na "realidade" tenho pouco tempo, meu fim está sempre próximo.

   Muitos infortúnios podem colocar fim a minha vida, um acidente, latrocínio, infarto ou coisa do tipo.
  Se nada disso ocorrer ... a velhice e a falha crescente dos órgãos é certa.
  Diante de mais de 2000 anos (só da era cristã) o que são 70 ou 80 anos de vida (expectativa no Brasil)?
  Pouco tempo.

   "Perder tempo desagrada mais a quem mais conhece o valor do tempo."

   Perder tempo me desagrada.

   Não gosto de fazer nada demais, não quero viver apenas por uma coisa, quero viver por várias coisas.

  Não quero dormir demais, não quero ficar acordado demais, não quero comer demais, não quero trabalhar demais, não quero amar demais.

  Amar demais faria me apegar demais as pessoas e elas iguais a mim são centelhas que logo irão se apagar.

  A maioria não gosta de pensar no próprio fim.
  Não pensam nem ao menos no fim das pessoas que amam.

  Eu acredito que pensar no fim nos leva a valorizar o tempo, e valorizar o tempo nos leva a valorizar a vida, os momentos.

  Começamos a questionar o que realmente é mais importante em nossa vida, começamos a questionar os "compromissos importantes" que assumimos.

  Para viver melhor, mais eficientemente, pensar no fim é o melhor começo que conheço...

  Essa lógica entra em sua mente?



Viver 200 anos







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2 comentários:

Encrenca 592,de bom dia disse...

Dei meu "primeiro bom dia" na réplica a uma mensagem do sr.no espaço do texto em destaque de ontem.

Dizer que ando pensando (no tema de agora) é apelido.
Ao olhar esses primores do Moreira Sales- sinto tristeza...e ainda algo que não soaria bem,dizer.
Algo que sentimos quando passamos perto de cemitérios.
Depois,ainda ficamos nos julgando "muito" em nossa condição.
Pois sim.
Somos criaturas da natureza,e por muito tempo,é isso o que vamos parecer.

"Se a morte fôsse boa,os deuses não seriam imortais."
Acho que naquele tempo, ela também andou se preocupando com essas questões.
Então,pode não ser a primeira vez que andei "turbilhonando" sobre certos eventos.
Mas,qual foi a decisão dela?
Continuar "tentando resolver a vida,a partir do seu interior gástrico".
Decisão que continua sendo a minha.

Mais poética agora, contarei que a junção dessas fotos com o texto,me lembrou uma música do Roberto Carlos,uma baladinha tristonha, na qual ele cantou:
"_Às vezes penso que estou sonhando
revendo imagens que se perderam
às vezes vejo você chegando
me dando um beijo
depois me deixando só...
...eu canto para os que amam
sem saber se existe um amanhã..."

Ele tentou falar na finitude dos amores.
Mesmo o amor...não é tão eterno quanto dizem que é.
É longo,mas não é tão eterno.
Todavia, é uma idéia melhor,um pouco mais digna do desejo de "eternidade".
Assim como a arte pereniza a memória da vida.
Da vida de cem anos.
Para séculos e milhares de anos terrenos.

Uma ótima sexta feira ao senhor e a nós todos.
Que a noção da finitude nos faça espertos,e não tristes.

Estarei na web mais um pouco(estou "coisando" minha página no blog da Selma), depois,voltarei à noite.
Desejo alegrias a um aniversariante de hoje,ainda que ele jamais vai ver essa felicitação,e mesmo se ver,não terá certeza se foi para ele.

(faz um ano que li aquele livro...)

ººººº

E-mail disse...

O fim se apresenta a todo momento.
Parentes e amigos que morrem ou uma simples doença inesperada que interrompe nossos compromissos.
Hoje, maduro, protejo a qualidade do momento e me afasto de tudo que possa alterá-lo.
Essa briga passa pelo controle dos pensamentos.
Cada suspiro e cada nova possibilidade de ver o novo ou o velho de forma diferente me atraí.
O que me entristece é encontrar a pequenez em pessoas que poderiam produzir mais e com maior qualidade.
Tenho um vizinho assim, se incomoda com tudo que não possa ser ou ter e transforma isso em incomodação para a rua toda.
A minha pena está se transformando em intolerância, pois vejo que mesmo velho, esse ser não consegue amadurecer com suas mazelas e os vizinhos são obrigados a tolerar a sua inconformação.
Mas tenho outros caminhos a percorrer, outros horizontes a desvendar, outras pessoas para ajudar ou mesmo compartilhar esse olhar diferente para o que já existe e nunca encontrei.
Tenho conhecido boas pessoas em meu serviço. Seres humanos especiais e com uma paz interior tão grande que passamos várias horas juntos e com harmonia invejáveis.
Somos diferentes nos gostos mais iguais na vontade de respeitar e sermos respeitados nas nossas diferenças e nos ideais de vida.
Nos mantemos em pé com a ajuda mútua e caminhamos em busca de nossos ideais com a troca positiva de energias durante o tempo que convivemos de forma harmônica e saudável.
Como diria Augusto Cury, são ilhas de descanso a fim de que possamos recuperar nossas energias e continuarmos até que a amiga morte nos possibilite o descanso, o qual não sei se é eterno ou não, mas que necessário, diante de tantas intervenções, quer sejam positivas ou negativas, na busca de nossos objetivos.