terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Filtros da Realidade






  (Nesse episódio da série Dr. House, uma freira jovem está tendo alucinações.)


  Me preocupo em analisar até que ponto um relato pode ter acontecido de fato.
  As possibilidades são basicamente quatro.


a) Simples mentira, por vergonha ou proveito.

b) Pensou ter visto/acontecido.
     Viu um vulto deduziu que fosse alguém ou “entidade”.
     Observou uma sequência de eventos “criou” uma teoria.

c) Alucinação por qualquer motivo físico ou mental.

d) O acontecimento por mais surreal que seja, ocorreu de fato.


 O importante nessa meditação é entender que tirando o item “a” (onde há um intenção deliberada de enganar) nos demais itens o relato é real/verdadeiro ... na mente da pessoa.

  Flutuando pelo Abismo dos pensamentos percebo que tudo se apresenta em diferentes níveis, a realidade se torna reflexo disso, do que vemos e do que queremos ver.
  Dependendo do plano de pensamento que estamos a realidade não é tão real quanto imaginamos que fosse e isso nos induz a erros.

  (É difícil tomar um remédio apropriado se não identificamos qual é a doença, onde está o mal.)

  Você deve estar pensando que não existe uma "semi-realidade", uma coisa é real ou irreal.

   A freira viu ou não viu alguma coisa.

   Aqui no Abismo os pensamentos acontecem em 3D, com ilusões tão nítidas, tão bem construídas que é difícil definir onde acaba a realidade e começa a ilusão, no Mundo dos Pensamentos nem tudo é exatamente o que parece ser.

  Exemplo:

  No breve tempo que fui “Freudiano” existia a "realidade" do libido, a energia sexual moldando toda sociedade.

  Para o homem, no final das contas, tudo gira em torno da mulher.
  Se o homem tenta se manter belo e buscar o poder é para conseguir mais mulheres.

  No final das contas para a mulher tudo gira em torno do homem, se ela tenta se manter bela e buscar o poder é para ter acesso aos melhores homens.

  É a sexualidade, o instinto de procriação/preservação da espécie movimentando toda uma sociedade e ditando seus relacionamentos, esta era uma realidade observável, Freud me convenceu que tudo girava em torno do desejo sexual, o domínio dos genes simplesmente querendo a proliferação deles mesmos.

  Eu William nada mais sou que o subproduto de uma determinação genética influenciada pelo meio, pela sociedade a minha volta.

  Essa percepção era real pra mim.

  
  Evidente que estou simplificando bastante.
  O conceito de libido é bem mais abrangente.
  A concepção que a maioria das pessoas tem sobre a libido é muito reduzida, restringindo o termo à sua interpretação sexual.
  No entanto, a definição da libido segundo Sigmund Freud, pai da psicanálise, é diferente.
  Referindo-se à libido, ele falou de um conceito muito mais amplo e que vai além do que conhecemos atualmente.
  Freud definiu como libido aquela energia que provém das pulsões ou instintos e que afeta nosso comportamento, direcionando-o. Diante disso, ele diferenciou dois tipos de pulsões: a pulsão de vida e a pulsão de morte.

 --Link



  Vou me ater a sexualidade para facilitar o entendimento.
  O outro objetivo é sair de temas “paranormais”.

  A freira via Jesus porque era o que queria ver.
  O médico só via uma doença porque era o que queria ver.
  Um terapeuta possivelmente só veria estresse.
  O psicanalista uma tensão sexual pela castidade...

  O fato é que a freira estava tendo visões, as sugestões de tratamento dependiam da “realidade” de cada um.

  Cada um de nós desenvolve naturalmente um “filtro da realidade”.

  Meu ponto é que devemos sempre buscar uma visão holística das coisas para que nossa visão particular da realidade não interfira “negativamente” no diagnóstico e solução do problema.

  Talvez influenciado pelos hormônios da adolescência as teorias de Freud sob libido faziam todo sentido pra mim.
  Pela minha própria condição eu colocava em segundo ou terceiro plano o conceito mais profundo pretendido por Freud.
  A base de tudo “na minha realidade mental” era a sexualidade para procriação e consequente preservação da espécie.

   Não sei ao certo quantos anos eu tinha, vamos dizer que eram 19 e nesta idade não havia nada de mais magnifico que mulher pelada, eu vivia a realidade do libido Freudiano.

  (Minha realidade paralela de ser muito cristão provocava uma dualidade culposa ... nada é muito simples.)

  Quando assisto um filme, leio livros, se o pensamento exposto me envolve eu vivo aquela fantasia, vivo aquela ilusão como a mais pura realidade.

  Quando comecei questionar a supremacia do libido como desejo sexual?

  O filme era "Holocausto", muito intenso, não lembro exatamente da história, mas lembro do sentimento que construiu em minha mente uma nova realidade.

  A câmera passou por uma fila enorme e nela havia muitas mulheres nuas, no entanto aquela imagem não me despertou o menor desejo, nenhuma excitação, aquelas mulheres estavam sendo conduzidas para câmara de gás.

  Aquelas pessoas não sabiam que iriam morrer, acreditavam que era apenas uma ducha para limpeza e descontaminação.

 
 Descobrimos que estamos diante de uma realidade maior quando a atual é ofuscada pela nova realidade.

  
  Diante daquele monte de mulheres peladas o desejo sexual não era nada pra mim.
  Fiquei realmente entristecido, preocupado, com a situação daquelas almas.

  Meu respeito pela vida, minha empatia com outras vidas é maior que algum desejo sexual, uma realidade muito maior que o “libido freudiano”.

  Uma outra realidade se apresentou.
  O grau de empatia de cada um movendo o Mundo, organizando (ou desorganizando) sociedades e relacionamentos.

 
  Empatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro sem perder a noção que você NÃO é o outro.



  A nova realidade é que eu realmente desejava que aquelas pessoas estivessem indo para uma simples ducha, mas era para câmara de gás.

  Na outra cena já aparece centenas de cadáveres sendo enterrados em valas, minha dor foi enorme, me faltava o chão, horror, horror!
  Saber que isso aconteceu de fato...

  Sim, existe essa realidade de homens e mulheres, existe essa energia sexual que move muita coisa no mundo.

  Existe também essa realidade maior, pessoas que respeitam a vida e outras que não conseguem nem por um segundo se colocar no lugar de uma outra vida cometendo as maiores barbáries.

  Os humanos bons são em maior quantidade (felizmente nesse quesito faço parte da maioria), mas os maus também existem em grande número.

  O grande problema é que homens bons acreditam em coisas que não são reais.

  Que com psicologia ou orações os homens maus ficam bons, que todos nascemos bons e a maldade é influência do meio.

   Eu não entendo.
   Se todos nascemos bons o meio necessariamente deveria ser bom.
  Como e quando nasceu o primeiro homem “mau” !?
  Se nascemos ao acaso naturalmente bons, o primeiro homem mau não poderia ter sido gerado pelo “ambiente” que vivia.


  Construíram esta realidade de tal forma que qualquer um que insinuar que ela não é real é tido como um desajustado, um indivíduo frio, sem amor no coração.

  Com o discurso da ressocialização a qualquer preço, a falha do ladrão, assassino, estuprador ... não é dele, mas sim de todos nós!

  Se todos nascemos uma folha em branco e todos somos naturalmente bons, como explicar a existência de pessoas más se excluirmos a possibilidade de que elas já nasceram assim?

  Para a freira católica o mal chegou por uma serpente falante.
 
  Para o “psicologismo” o mal (em sua origem) é fruto de um ambiente puro e bom!?

 Percebem a coincidência irônica?


PS: Sei que essa meditação é bem complexa, mas decidi publicar mesmo assim.
      Se ela servir para você verificar seu “filtro da realidade”, já me sinto satisfeito.