quarta-feira, 16 de maio de 2012

Tradição


 “Tudo quanto nós próprios descobrimos ou voltamos a descobrir são verdades vivas; a tradição convida-nos a aceitar somente os cadáveres da verdade.”
[André Gide]

  Por favor, NÃO sejam contra a tradição apenas por ser tradição.

  Lavar as mão antes de comer virou tradição, sinal de boa educação, e continua importante como forma de higiene.
  Casar na igreja, vestido de noiva, terno do noivo é uma tradição, legalmente o que vale é o casamento civil, mas se você gosta desse nosso costume social qual o problema em mantê-lo!?   

  Continuando o texto anterior:

  Chegou um dia que decidi tirar da minha vida a maioria das confraternizações no Trabalho.
  No começo ouvi comentários bem desagradáveis como eu não saber trabalhar em equipe, ser antissocial, precisar de tratamento psiquiátrico, pão duro...
  Pra mim, foi sereno com relação às críticas.
  Meu receio foi perder o emprego.

  Era dessas empresas cheias de "psicologismo", a opinião da psicóloga tinha muito peso.
  Poderia explicar meus motivos, mas será que ela iria aceitar?
  Para não ter maiores problemas no emprego até voltaria atrás.
  Felizmente meu encarregado era gente boa, dessas pessoas "raras" que não ficam complicando.
  Nem precisei explicar muito, disse que ele sabia meu salário e que aquelas constantes contribuições pesavam bastante pra mim.

  Nessa meditação posso dar mais explicações.

  A verdade crua e nua é que não gosto de ficar me entupindo de doces e salgados.
  Para não engordar mantenho uma certa disciplina alimentar, nada rigoroso, apenas o suficiente para não ficar muito acima do peso.

  A questão financeira também não era desprezível, 10 reais aqui, 5 ali, 7 acolá e no final do mês gastamos muito dinheiro com bobagens facilmente evitáveis.
  Nessa empresa o cargo tinha nome pomposo, mas na pratica era operador de telemarketing.
  Recebia ligações com pedidos ou reclamações de clientes de telefonia e tentava resolver.
  O lado bom é que trabalhava pouco mais de 6 horas, o lado ruim é que era salário mínimo.
  Eu precisava de tempo para estudar, meu objetivo era prestar algum concurso publico.


  A média das pessoas não tem o costume de somar pequenos gastos no fim do mês, eu tenho.
 Trabalhando 22 dias no mês e gastando 10 reais todo dia na cantina, são 220 reais!!!
  Não é uma quantia desprezível mesmo para quem ganha bem.
  Eu nunca tive capacidade ou sorte para ganhar bem, logo, evitar pequenos gastos desnecessários é uma preocupação minha desde sempre.

  Nessa empresa tinha aniversários, despedida de férias, despedida de aposentadoria, festa do amigo chocolate, amigo secreto, festa “surpresa”, entre outras.

  A festa surpresa era uma combinação; Sexta Feira vai ser o dia da esfiha aberta.
  Cada um pagava sua cota, alguém ia até o Habib’s trazia esfihas, deixava na copinha.
  Como todos não podiam abandonar o posto ao mesmo tempo e ninguém queria ficar depois do expediente a primeira disputa era para determinar quais os primeiros grupos a ir.
  Quanto mais para o final mais fria a esfiha iria estar e o seu sabor predileto poderia não estar mais disponível.
(Tinha micro-ondas, era possível dar uma requentada.)

  Imaginem o desconforto, você empurrava aquela esfiha goela abaixo (não podia demorar muito), tinha uns papos furados na copinha e voltava a trabalhar...legal hein?!
  Caraca!
  Posso ir no meu dia de folga ao Habib’s, comprar uma caixa com minhas esfihas preferidas e comer calmamente com minha esposa e filhas, por que vou querer fazer isso como um morto de fome na correria do trabalho!?

   Na Empresa atual já cheguei dizendo não para a lista do cafezinho, da bolachinha, das inúmeras confraternizações.
   Se me perguntassem porque respondia sem rodeios.

- “Não gosto de ficar me entupindo de doces e salgados, não tenho o hábito de tomar café.”

  No começo houve muito estranhamento, mas as pessoas se acostumam rápido.
  Como não me incomodo em ser considerado chato fico de boa.
  Cumpro minhas obrigações, não prejudico ninguém, não sou carente de fazer amizades.
  Faço meu serviço a pessoa faz o dela, isso me basta.

  Se passa uma lista e a proposta está dentro dos “meus critérios” contribuo.
  É comum levar balas e bolachas para a empresa e dividir com os colegas.
  Gosto de colaborar para um ambiente agradável, gosto de ver sorrisos, aliviar tensões.
  A maioria de nós trabalha porque precisa.
  Respeitando as características de cada um o fardo fica menos pesado.

  No trabalho já somos obrigados a uma porção de coisas, tem outras que nos obrigamos apenas por tradição.



  Uma característica minha é não me prender a tradições.
  Posso contar com seu respeito?

(Se não ... tudo bem ... nem o glorioso Jesus agradou a todo mundo, não tenho essa pretensão até porque considero impossível.)
 


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