sexta-feira, 30 de abril de 2021

Cabecinha de Vento



😊😊 Já passei por coisa pior, agora eu rio, mas quando ocorreu foi desesperador, em algum texto eu conto...


  Na minha infância e adolescência nunca tive planos para alguma profissão.
  Não reconhecia em mim nenhuma habilidade a destacar.
  Estava esperando "sinais de Deus".
  Parece que vieram, pelo menos acreditei.
  Tirei uma foto 3X4 em um comércio da Av. Francisco Glicério (Acho que era para carteirinha da biblioteca), a foto ficou bonita, colocaram em exposição.
  Será que eu era bonitinho e não sabia?
  Como "não me reconheço", não conseguia avaliar.
  Até aí era só um fato isolado que cairia no esquecimento.
  Acontece que pouco tempo depois encontrei um folheto do SENAC convidando para um curso de modelo e manequim ... olha o sinal aí gente!

  Nesse curso tinha muita aula de "desinibição", foi bom, eu precisava mesmo.
  Mas uma aula em especial me pegou de jeito.
  Assim do nada o professor pediu para tirarmos as roupas e vesti-las do avesso.
  Como a aula estava sendo em área aberta ele permitiu que fossemos ao banheiro para não provocar tumulto com os passantes.
  Tinha que ser muito rápido, simulando a participação em desfile.
  Para qualquer um seria tranquilo, pessoas jovens com 19 anos em média, corpos em boa forma.
  Eram cerca de 40 alunos, todos colocariam roupa do avesso ... é aquela coisa da "mascara/Covid" no começo, se só você esta usando é estranho, mas se o grupo esta usando tudo bem.

  Acontece que minhas roupas não eram como a dos outros.
  Quem já foi bem pobre vai entender, para quem não foi use a imaginação.
  Eu comprava minhas roupas em brechós, não naqueles elegantes que viraram moda, naqueles de roupas usadas.
  Minha situação financeira que já era critica ficou no limite tendo que pagar o curso.
  Nem para comprar roupa em brechó dava.
  As velhas iam sendo remendadas.
  Por fora enganava, mas do avesso ... meu deus!

  Um dia para ser esquecido, mas quem consegue...

  Minha camisa era de algodão, estampa xadrez com tons de laranja.
  Já tinha rasgado debaixo das axilas faz tempo.
  Evidente que eu costurei, com "linha preta", era o que tinha em casa.
  Passava despercebido a não ser que alguém olhasse de bem perto, porem com a camisa do avesso...

  A calça era preta bem surrada.
  Eu era bem magrinho e no brechó você pega o que tem, que cabe mais ou menos em você.
  Essa calça preta ficava muito larga.
  Chegando em casa alinhavei 2 cm de cada lateral e passei a costura.
  A linha do carretel era preta, mas da carretilha branca ... era o que tinha.
  O certo era ... nem sei, não sou costureiro é mais uma habilidade que não tenho.
  Pra mim o importante era a roupa ficar "aceitável" por fora.

  Enfim, as roupas que já não eram grande coisa por fora, do avesso eram um rascunho do mapa do inferno.
  A tragédia era anunciada, mas na minha cabecinha de vento quis acreditar que poucos iriam perceber.
  Tenha fé William!

  Ai, ai ... deveria ter explicado a situação para o professor e "me humilhado" só pra ele.

  Foi aproximar do grupo e me tornar uma celebridade ... do avesso.
  A maioria ria, outros ficavam perplexos com minha "coragem".
  Eu só queria sumir dali, mas aguentei firme.

  Não eram só os alunos, tinha o pessoal das marquises.
  Com a "Geisy Arruda" deu certo, comigo foi só mais um dia para esquecer, mas quem consegue...







*Geisy Vila Nova Arruda é uma empresária, atriz, e repórter brasileira que ficou conhecida após ter sido hostilizada por colegas da universidade em que estudava, por usar um vestido curto.










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