segunda-feira, 7 de março de 2016

Filosofia no Lugar da Religião


  “Série de suicídios de pastores acende alerta entre cristãos.

   Estudos apontam para altos índices de depressão entre líderes evangélicos.”

 [Gospel Mais]


  Na adolescência pensava em minha fase adulta fazer palestras sobre textos bíblicos.
  Dar aulas na escolinha dominical, quem sabe chegar a ser "pastor", fazer o seminário da Igreja Presbiteriana.
  (Lá não tem propriamente o termo pastor é só para todos entenderem.)

  Quando fui para o Kardecismo ainda me via no futuro fazendo palestras sobre textos bíblicos, divulgando a “palavra de Deus”.

  Acredito que tenho o dom de compreender profundamente um livro pelo qual me interesso.
  A Bíblia me interessava muito, supunha que com o passar dos anos me tornaria tão versado nela a ponto de fazer palestras.

  Li a Bíblia duas vezes na integra, fora isso já debati sobre versículos milhares de vezes.
  Mesmo com minha memória não sendo boa posso me dizer muito conhecedor dela.
  Na primeira leitura integral aceitava todas as explicações recebidas na igreja presbiteriana da qual fazia parte.
  Na segunda leitura já estava me afastando da igreja, usei processos mais lógicos.

  Foi fácil perceber que as palestras que eu faria sobre a Bíblia não seriam aceitas em nenhuma igreja que conheço.
  As explicações que recebia na Igreja não conseguiam me convencer que o Deus representado ali era justo e bom.

  O que era dito na igreja quando questionava algo que me parecia terrível?
  (Como Jacó enganando o pai cego em seu leito de morte, apenas para beneficio próprio.)

 

  Tudo que nos parece “feio” nas passagens bíblicas são apenas mistérios divinos os quais não temos capacidade para entender, simplesmente temos que ignorar a lógica ou a interpretação básica do texto e só dar glórias a Deus.

 

   Em resumo era isso.


  Ignorar a lógica nunca foi um processo fácil pra mim, mas com relação a religião até que eu conseguia.

  Acontece que paralelo a isso minha vida deixava muito a desejar.
  Sei lá, se pelo menos pudesse observar algum resultado positivo.
  Prestar o serviço militar foi o gatilho para iniciar a segunda leitura da Bíblia, dessa vez de forma mais "filosófica" como fazia com todos os outros livros.
  Fazendo isso...
  Aqueles sermões na Igreja Presbiteriana passaram me dar um tédio profundo.
  O palestrante fala uma coisa tão distante da interpretação básica do texto que dava vontade de interrompe-lo.
  
Cale-se, cale-se você me deixa dooooido!😊

  Ouvindo o culto não suportava mais as leituras distorcidas da Bíblia, não suportava mais o palestrante querendo transformar fel em mel ... não dava mais para continuar com aquilo.

  Parei de frequentar a igreja, mas me considerava evangélico, até que aconteceu o espiritismo.
  O Kardecismo abria um horizonte novo para entender "Deus", até oferecia um Novo Testamento revisado:
  “O Evangelho Segundo o Espiritismo.”

  Ao me aprofundar na doutrina espírita vi tantas incongruências.
  De qualquer forma no Kardecismo eu me sentia mais “protegido”.
  Frequentei por uns 10 anos, não pela doutrina, mas pelos passes e orações.
  É uma religião muito voltada para caridade, eu gostava de fazer caridade.
  As palestras são curtas, 30 minutos em média (onde eu frequentava), nas igrejas evangélicas o culto se estende por até 2 horas.
  No entanto minha “proteção” parece ter acabado em 2005.
  Sem a proteção só me restava o tédio da doutrina espírita.
  Sem proteção eu não tinha dinheiro para caridade.
  Lá por 2007 me tornei oficialmente sem religião.

  Nenhum Kardecista ouviria uma palestra minha sem ficar muito indignado isso eu já sabia depois de 1 ano de Kardecismo.

 
Tudo isso pra falar que...

  Perceber que o caminho “natural” de fazer palestras não aconteceria não me deixou triste ou deprimido, não investi nada nessa atividade, lia, pesquisava porque gostava.

   Imaginem se meu primeiro encanto pela Bíblia me levasse a ser padre ou pastor e eu investisse muito nessas atividades.

  Como seria eu pastor despertando para as incongruências bíblicas?
  Eu sendo líder de uma igreja tendo que pregar aos fiéis algo que não acreditava mais.
  Teria que ser um excelente ator para passar as pessoas algo que eu não estou mais sentindo ou concordando.

  Minha aposta é que muitos padres e pastores esfriam ou até abandonam essa profissão de tanto lerem os livros sagrados e terem que se sujeitar a contorcionismos para dar algum sentido nobre ao que está escrito.
  Os pastores podem casar dando uma aliviada na questão sexual e no desejo de ser pai, os padres ainda tem mais essas duas cruzes para carregarem.
                                                 

  

 "Cheguei a pensar nisso (suicídio).”

 “Tenho medo de "fanatizar" as pessoas, há uma linha tênue entre o fanatismo e a loucura.”

[Padre Marcelo Rossi]

 

                               

  Enquanto Marcelo estava fanático, acreditando que a Bíblia é 100% a palavra de um Deus justo e bom ele “vivia bem.”
  Provavelmente as dúvidas o levaram a ansiedade, não poder se expressar livremente o levaram ao tédio, e o tedio constante o levou a depressão.
  Marcelo investiu muito (para não dizer tudo) em sua carreira de padre.
  Tem fanáticos seguidores, cultos de louvor é o que ele sabe fazer de melhor ... como desistir de tudo que ele construiu com tanto esforço?
  O jeito é respirar fundo e ir tocando o barco.
  Duvido que depois de tanto ler a Bíblia Marcelo não tenha as mesmas críticas duras de nós Livre Pensadores sobre considerar a Bíblia um livro sagrado.
  A diferença é que eu posso extravasar, colocar para fora tudo que penso ... o Marcelo tem que tocar o barco...

  Para fins didáticos farei uma classificação tosca de 2 tipos de líderes religiosos.

Líder Fanático: Esse vive bem, não é do tipo de indivíduo que questiona dogmas.
  Se na infância ele ouviu que misturar manga com leite faz mal, leva isso por toda vida, não importa o que a ciência diga, não importa o exemplo de pessoas que fizeram a mistura e continuaram saudáveis.
  Na mente dele leite com manga faz mal e não se fala mais nisso.
  A ciência um dia vai descobrir...

  Quem bebe a mistura qualquer indisposição “só pode ser” causada pela manga com leite, se a pessoa disser que não teve nenhuma indisposição ela está mentido ou a indisposição acontecerá no futuro.
  O pastor fanático não perde a Fé nunca, porque na Bíblia a Fé nos convida a não pensar, um convite que o pastor fanático aceita com gosto.
  Se você está sóbrio em uma festa de bêbados isso traz muito desconforto, mas se você está bêbado também ... “vive bem”.


Líder Normal: Se encaixa no caso do Marcelo Rossi.
  Normalmente não questiona dogmas, não pensa muito neles, mas quando a exposição é constante alguns estalos mentais começam a acontecer.
  Esses estalos vão criando rachaduras no fanatismo inicial e como isso vai se desenvolver ... depende muito de cada indivíduo.
  Pense no vendedor de carros usados.
  Tem aquele que sabe que o carro está bichado, mas para ele o importante é a comissão da venda.
  Ele te fala do carro ressaltando só os pontos bons e escondendo os defeitos.
  A prioridade dele é a comissão.
  Ele não se sente mal porque quando você pretende comprar carro deveria pesquisar melhor sobre eles e não confiar cegamente na palavra do vendedor.
  Se você não faz seu “dever de casa” não é o cara atrás da comissão que fará por você.
  Marcelo sabe das falhas Bíblicas, mas se as pessoas não fazem seu dever de casa, Marcelo não está em condições de fazer por elas, ele teria que deixar de ser Padre.
  Um vendedor de carros que seja super sincero sobre as condições do veiculo ... não tem futuro nessa atividade.
  Esse tipo de líder religioso está mais sujeito a depressão seus conflitos internos sugam sua alma podendo levar até ao suicídio.





  
Se você leitor não consegue ser fanático isso é bom... eu acho😊 não tenho muita certeza...

  Se você não investiu muito tempo na "carreira de líder religioso" dá tempo de desistir sem grandes consequências.
  Não sei o quanto essa pesquisa é confiável, mas "segundo ela" 1500 pretendentes a pastor desistem a cada mês.
  Imagino que seja o cidadão que começa o curso de teologia motivado, mas mesmo que conclua percebe que ficar no púlpito não é para ele(a).

  Minha sugestão é substituir a "religião" pela Filosofia.

  Deu certo pra mim.
  Defendo o que consigo defender.
  Não fico me enganando nem engano ninguém.

  Você pode até continuar frequentando uma doutrina, mas estará imunizado contra o fanatismo e não terá sobre seus ombros a responsabilidade por "almas".
  (O que um líder religioso fala ou faz tem um peso enorme na vida de muitas pessoas.)



Falando em Filosofia: 

    

 

  Viva uma boa vida!

  “Se Deuses existirem e forem justos, eles não vão se importar com o quão devoto você foi, mas vão lhe acolher baseado nas virtudes vividas por você.

 

   Se Deuses existirem, mas forem injustos, então você não deve querer adorá-los.

 

   Se Deuses não existirem, então você partirá, mas terá vivido uma nobre vida, que irá perdurar e continuar nas memórias dos seus amados.”

[Marcus Aurelius – Imperador de Roma]

 

  Como você conhece Deus?

  Como tem certeza se ele existe ou não?

  Se ele existe como tem certeza que está fielmente retratado em algum livro sagrado?

 

  APENAS TENTE VIVER BEM E FAZER O BEM.

 

 Se Deus existir e for bom, vai lhe colocar em bom lugar.

 Se Deus não existir pelo menos você melhorou a sociedade a sua volta.

 Se Deus existir e for um sacana ... estamos todos fud... 😊” 

[William Robson – Ninguém importante]

 

 

                           


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