sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Piripaque



  Em Dezembro de 2022 comecei a sentir desconforto no peito.
  Agendar qualquer coisa no fim de ano é complicado.
  Dia 2 de Janeiro fui ao postinho, estava fechado.
  Durante a semana tentei contato telefônico, nada, ninguém atendia.
  Dia 9 voltei ao posto, finalmente consegui falar com alguém.
                                              

   “Seu atendimento não é nesse posto do Parque Itália, é no do bairro São Bernardo.”

 

 - Eu moro no Parque Itália!

 

  “Mas seu atendimento é no São Bernardo”.

 

 - Então tá.

 

  Lembrei daquele episódio do Chaves.

                                             

 -Me vende um suco de abacaxi.

 

  "Aqui está senhor."

 

 - Mas está com gosto de limão!

 

  "Aqui o suco de abacaxi tem sabor de limão.

   Se quiser sabor de abacaxi tem que pedir suco de maracujá."

 

  - E se eu quiser suco de abacaxi com sabor de abacaxi?


   "Isso nós não temos senhor."

 

  Entenderam!?
  Moro no Parque Itália, gostaria de ser atendido no posto perto de casa, mas isso não é permitido.
  Não estou falando de uma especialidade e sim de um clínico geral que me encaminharia para quem ele achar que deve.
  Desconfio de hipertensão, mas não sou médico.

  Minha saga continua...

  No dia seguinte fui ao posto do São Bernardo.
  Levei minha carteira do SUS que estava escrito Parque Itália.
  Aquilo não valia mais nada.
  Preparado para burocracia, ainda bem que tinha levado comprovante de endereço mesmo não esperando usar.
  Nova carteirinha, tudo certo para agendar, peguei senha e aguardei.

                                            

   "Senhor, sua classificação é verde, só abre agenda no dia 26 de Janeiro para marcar para Fevereiro.”

 

  -Tudo bem.




 

  Não me perguntem porque minha classificação é "verde".
  A enfermeira nem ao menos mediu minha pressão ou pediu mais informações sobre o que eu estava sentindo.
  Relatei desconforto na região do coração, porque não amarela!?

  Enfim...

  Dia 26 (ontem) faltando alguns minutos para 7 horas lá estava eu no final de uma fila de pelo menos 200 metros.
  Tumulto na portaria, muita gente indo embora.
  Lá pelas 7:30 consegui ser informado que o agendamento seria feito pelo atendimento telefônico 160 da prefeitura a partir dás 8 horas.
  Para minha agradável surpresa fui atendido rapidamente ao ligar para prefeitura.
  Não deu tempo nem de um sorriso de satisfação.
  A atendente disse que não era com ela, que eu tinha que comparecer ao posto.
  Expliquei que naquele dia eu já tinha enfrentado uma fila de 200 metros e fui informado que teria que agendar pelo 160.
  A moça disse que o posto nem ao menos informa ao "160" quando abrem agenda.
  Pedi educadamente uma sugestão.
  Ela disse que tenho que ficar indo ou ligando no postinho até abrir agenda...

  Percebem?
  Cai no limbo, como naqueles filmes que o personagem fica preso em um looping infinito.

  Na prática preciso esperar ter um piripaque para ser atendido em alguma unidade de emergência.
  Sair da classificação verde e passar para vermelha!

                                           

 

  Lembrei de reportagens recentes e antigas em que se fala sobre as dificuldades dos indígenas no atendimento pelo SUS.

  Os índios só são atendidos quando a situação fica crítica.

 

  No caso dos índios a equipe do SUS tem que se deslocar até eles, uma logística complicada em lugares isolados.

  Aqui nós vamos até o SUS, mas a igualdade de “não tratamento” é a mesma.

 

  Outra diferença é que eu pago o SUS, os índios e tantos outros cidadãos nem isso.

 

   Quem paga o SUS?


 


  E agora quem poderá me ajudar?

  Sendo funcionário da Unicamp tenho acesso a um atendimento ambulatorial que também tem agenda complicada.
  O problema a mais é a distância cortando o trânsito da cidade.
  Cada etapa do processo é um transtorno terrível.
  Por isso procurei primeiro um atendimento perto de casa.

  O convênio da empresa que minha esposa trabalha é extensivo a mim.
  Mas é aquele caso, se for hipertensão é um tratamento contínuo para o resto da vida.
  Se minha esposa sair da empresa vou acabar tendo que procurar o SUS.
  Usando a lógica, quis me preparar para isso enquanto "estou com saúde" (ainda não tive piripaque), fazer tratamento preventivo.

  Pelo jeito, a pressão arterial precisa me derrubar, para só depois eu ter alguma atenção do SUS.

  Se der tempo de chegar em alguma unidade de emergência fico mais um tempo aqui senão...espero que seja a aniquilação.

  Contudo que escrevo (se os crentes estiverem certos) não tenho esperança de ir para algum céu.
  O desagradável é que o calor me incomoda tanto.

  Ó dia, ó semana, ó mês ... ó transtorno!

  Aqui na Terra pelo menos tem ventilador, água gelada, ás vezes ar condicionado ...é um inferno mais light.
  Não gosto nem de pensar que o que já esta ruim pode ficar muito pior...








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