Mas é deste silêncio que nasce todo o
vocabulário do mundo."
[Vergílio
Ferreira]
Minha esposa
nasceu em uma cidade bem pequena no interior do Paraná, seus pais tiveram
muitos filhos e cada filho tem sua história.
Mara teve aquela
infância que é o sonho de muitos freudianos.
Contato com a
natureza, banho de rio, festas regionais, seus pais não admitiam nem TV em casa
para os filhos não verem a “perdição” do mundo.
Ela me contou o
trauma que teve quando no início da adolescência viu sair de dentro dela muito
sangue, pensou que iria morrer.
Sua infância foi
tão isolada da “perdição do mundo” que nem sabia o que era menstruação.
Sei muitas coisas
da vida da minha esposa, seu primeiro namorado foi Adalto um amor que ficou
para trás quando ela mudou para São Paulo.
Eu poderia escrever páginas e páginas sobre a
vida de minha esposa, coisas que não são segredo, ela conta em conversas com
amigos e conhecidos.
Claro que também
conheço “segredos” que ela não conta para ninguém, só as pessoas muito próximas
conhecem e de certo há coisas que minha esposa guarda só para ela nem eu sei.
O motivo de
escrever essas coisas é fazer uma Terapia da Lógica propriamente dita com
vocês.
Uma reclamação frequente dos
casais é que com o passar do tempo ficam “sem assunto”.
Você acredita que
um casal depois de anos de relacionamento tem cada vez mais coisas para
conversar?
O enigma que
estou propondo é o seguinte:
Ter cada dia mais assunto é algo a se esperar de um longo casamento?
[É interessante que “se
responda” antes de continuar o texto.]
Li o depoimento
de uma mulher que [segundo ela] traiu seu marido porque eles já não
conversavam muito.
O dono do restaurante que ela almoçava ouvia
suas histórias com tanta atenção que aquilo a cativou e acabou rolando um clima
romântico.
"Fiquei
carente e com quem vou conversar?
Com o cara que eu via todo dia.
Passei
a me relacionar com o dono do restaurante onde eu almoçava"
A pergunta que eu como Filosofo faria a essa
mulher é:
Se seu marido
contar “mais uma” vez toda história da vida dele você o ouvirá com atenção?
Percebem?
A vida daquela
mulher para o dono do restaurante era um “filme novo”.
A vida do dono do
restaurante para aquela mulher era um filme novo.
Não
entendo o que as pessoas esperam do casamento!
Minha vida é uma
só, só tenho o mesmo filme para contar.
Os detalhes da
minha vida que eu exponho aqui no Blog minha esposa conhece de cor e salteado,
muitos ela vivenciou comigo.
De certo seria
terrivelmente chato eu ficar repetindo as mesmas histórias para minha esposa e
esperar total atenção dela.
Você acha que eu posso ir para
cama com outra mulher usando como justificativa minha esposa não prestar mais
atenção nas minhas histórias?
Você acha LÓGICO
eu colocar a culpa da traição na "falta de assunto" de minha esposa?
Repense a
justificativa da traição da mulher com o dono do restaurante porque a SITUAÇÃO
é praticamente a mesma.
[Vamos para uma situação muito
comum que nos servirá de paralelo para todas as outras.]
▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬
A
moça gosta de homens bem humorados que a façam rir.
Essa é uma característica
que lhe atrai.
Ela conhece um rapaz na festa que conta ótimas
piadas, isso chama a atenção dela e ocorre o envolvimento.
O cara realmente
é animado, mas seu repertório de piadas é bem limitado, ele conhece e conta bem
umas 30 que se repetem em todo lugar que ele vai...
Se a moça não foi
atraída única e exclusivamente por esse “talento” do rapaz ela continua o
relacionamento, mas quando ele for contar piada ela sai de perto... por não
suportar mais ouvir as mesmas piadas.
Veja bem que
aquela característica que acendeu a fagulha do amor/paixão é a mesma que passa
a provocar um certo distanciamento.
Já conversei
muita Filosofia com minha esposa, inclusive certas discussões sobre a Bíblia
nos aproximou no início da amizade que depois virou namoro.
Lembro de em uma
conversa ter dito a ela que o homossexualismo é tão antigo que foi até citado
na Bíblia.
Ela meio que me
desafiou a provar, na mente dela as pessoas do passado eram quase santas, homossexualismo
era coisa da modernidade, da perdição do mundo.
No outro dia levei
minha Bíblia, confesso aqui que fiquei meio envergonhado, a Bíblia estava um
caco ☻
Eu lia muito, a
capa já estava rasgada, algumas páginas soltando.
Andei muito com
ela quando frequentava a Igreja Presbiteriana.
Nessa fase já
tinha saído da Igreja, mas continuava lendo a Bíblia e ... pobre de maré de si
... não tinha dinheiro para comprar uma Bíblia nova.
De qualquer forma,
no intervalo do almoço, mostrei a minha “colega de trabalho” a passagem:
“O
homem que se deitar com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram
uma abominação, deverão morrer, e seu sangue cairá sobre eles.”
[Levítico 20:13]
Oras, porque
fariam uma lei para punir algo que não acontecia!?
Nessa fase eu já
tinha um bom conhecimento sobre mulheres, percebi quando o papo filosófico começou
mais a afastar que atrair.
Minha futura
esposa não aguentava mais eu falar de Filosofia... ☻
Fui diminuindo os
“papos cabeça”, não é que falta assunto é
que ela já conhece meus assuntos.
▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬
Vem comigo que
isso pode ser muito importante para sua vida, Terapia da Lógica em estado puro.
É
evidente que a grande maioria dos casamentos caminham para o silêncio.
Essa é a sequência de evento a ser esperada.
Entretanto é um silêncio transcendental
que deveria ser mais valorizado.
Um amor em silêncio.
Não é que “falte assunto”, acontece que são
duas pessoas que se conhecem tão bem que DISPENSAM PALAVRAS.
Isso aqui no
Abismo dos Pensamentos é incrivelmente bonito, não entendo porque no mundo lá
fora esse silêncio é tido como um câncer no casamento que deve ser evitado a
qualquer custo!
Evidente que não
estou falando daquela situação que o casal não tem nada mais a ver e quase se
detesta, não vou entrar por essa brecha agora, o texto ficaria muito longo, mas
medite que esse “detestar” vai surgindo diante de exigências descabidas, que
não tem lógica, como esperar que os assuntos aumentem mais e mais a cada dia ou
se mantenham ao nível do namoro quando a vida dos dois era
um filme novo...
Meus assuntos com
minha esposa são comentários sobre familiares e conhecidos em comum,
planejamento de compras, educação das filhas, algum filme ou notícia...enfim
coisas triviais na vida de qualquer casal.
Minha esposa não
fica me convidando para festas porque ela me
conhece, sabe que não gosto de sair de casa, a falta de lógica lá fora é um
grande incomodo para mim.
Como eu a conheço
e sei que ela gosta de festa, ela vai em todas que pode, não tem essa de
“pedir” ela apenas por educação me comunica.
Esse texto é
importante porque sempre escrevo muito sobre “conhecer a si mesmo” hoje estou
falando de CONHECER O OUTRO, RESPEITAR O OUTRO.
Eu não ofereço
tomate para minha esposa porque sei que ela não gosta, ela não precisa falar,
não precisamos ter esse “assunto” ...EU JÁ SEI.
Domingo eu passo
na feira e compro pastel para minhas filhas e pamonha salgada para minha
esposa, elas não precisam pedir, eu conheço o gosto delas...EU JÁ SEI.
Onde as pessoas
estranhamente veem falta de assunto eu vejo um CASAL EM HARMONIA, UMA FAMÍLIA
EM HARMONIA.
É muito triste
observar casais que evitam esse estágio do relacionamento onde estamos bem
mesmo estando em silêncio.
A presença do
outro nos basta, nossos desejos e vontades são conhecidos e respeitados sem que
precisemos falar nada.
Eu entendo que o
amor possa estar no barulho o que eu não entendo senhoras e senhores é porque o
amor não pode estar no SILÊNCIO!?
“Decifra-me ou te Devoro!”
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