quarta-feira, 29 de maio de 2013

Amor em Silêncio.

    "O vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o silêncio.
   Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo."
   [Vergílio Ferreira]
 


  Minha esposa nasceu em uma cidade bem pequena no interior do Paraná, seus pais tiveram muitos filhos e cada filho tem sua história.
  Mara teve aquela infância que é o sonho de muitos freudianos.
  Contato com a natureza, banho de rio, festas regionais, seus pais não admitiam nem TV em casa para os filhos não verem a “perdição” do mundo.
  Ela me contou o trauma que teve quando no início da adolescência viu sair de dentro dela muito sangue, pensou que iria morrer.
  Sua infância foi tão isolada da “perdição do mundo” que nem sabia o que era menstruação.

  Sei muitas coisas da vida da minha esposa, seu primeiro namorado foi Adalto um amor que ficou para trás quando ela mudou para São Paulo.

  Eu poderia escrever páginas e páginas sobre a vida de minha esposa, coisas que não são segredo, ela conta em conversas com amigos e conhecidos.
  Claro que também conheço “segredos” que ela não conta para ninguém, só as pessoas muito próximas conhecem e de certo há coisas que minha esposa guarda só para ela nem eu sei.

  O motivo de escrever essas coisas é fazer uma Terapia da Lógica propriamente dita com vocês.

  Uma reclamação frequente dos casais é que com o passar do tempo ficam “sem assunto”.

  Você acredita que um casal depois de anos de relacionamento tem cada vez mais coisas para conversar?

  O enigma que estou propondo é o seguinte:

  Ter cada dia mais assunto é algo a se esperar de um longo casamento?

 [É interessante que “se responda” antes de continuar o texto.]

  Li o depoimento de uma mulher que [segundo ela] traiu seu marido porque eles já não conversavam muito.
  O dono do restaurante que ela almoçava ouvia suas histórias com tanta atenção que aquilo a cativou e acabou rolando um clima romântico.

  "Fiquei carente e com quem vou conversar?
    Com o cara que eu via todo dia.
    Passei a me relacionar com o dono do restaurante onde eu almoçava"

  A pergunta que eu como Filosofo faria a essa mulher é:

  Se seu marido contar “mais uma” vez toda história da vida dele você o ouvirá com atenção?

  Percebem?

  A vida daquela mulher para o dono do restaurante era um “filme novo”.
  A vida do dono do restaurante para aquela mulher era um filme novo.

  Não entendo o que as pessoas esperam do casamento!

  Minha vida é uma só, só tenho o mesmo filme para contar.
  Os detalhes da minha vida que eu exponho aqui no Blog minha esposa conhece de cor e salteado, muitos ela vivenciou comigo.
  De certo seria terrivelmente chato eu ficar repetindo as mesmas histórias para minha esposa e esperar total atenção dela.

  Você acha que eu posso ir para cama com outra mulher usando como justificativa minha esposa não prestar mais atenção nas minhas histórias?

  Você acha LÓGICO eu colocar a culpa da traição na "falta de assunto" de minha esposa?

  Repense a justificativa da traição da mulher com o dono do restaurante porque a SITUAÇÃO é praticamente a mesma.

  [Vamos para uma situação muito comum que nos servirá de paralelo para todas as outras.]
▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬
  A moça gosta de homens bem humorados que a façam rir.

  Essa é uma característica que lhe atrai.
  Ela conhece um rapaz na festa que conta ótimas piadas, isso chama a atenção dela e ocorre o envolvimento.
  O cara realmente é animado, mas seu repertório de piadas é bem limitado, ele conhece e conta bem umas 30 que se repetem em todo lugar que ele vai...
  Se a moça não foi atraída única e exclusivamente por esse “talento” do rapaz ela continua o relacionamento, mas quando ele for contar piada ela sai de perto... por não suportar mais ouvir as mesmas piadas.
  Veja bem que aquela característica que acendeu a fagulha do amor/paixão é a mesma que passa a provocar um certo distanciamento.

   Já conversei muita Filosofia com minha esposa, inclusive certas discussões sobre a Bíblia nos aproximou no início da amizade que depois virou namoro.
  Lembro de em uma conversa ter dito a ela que o homossexualismo é tão antigo que foi até citado na Bíblia.
  Ela meio que me desafiou a provar, na mente dela as pessoas do passado eram quase santas, homossexualismo era coisa da modernidade, da perdição do mundo.
  No outro dia levei minha Bíblia, confesso aqui que fiquei meio envergonhado, a Bíblia estava um caco
  Eu lia muito, a capa já estava rasgada, algumas páginas soltando.
  Andei muito com ela quando frequentava a Igreja Presbiteriana.
  Nessa fase já tinha saído da Igreja, mas continuava lendo a Bíblia e ... pobre de maré de si ... não tinha dinheiro para comprar uma Bíblia nova.
  De qualquer forma, no intervalo do almoço, mostrei a minha “colega de trabalho” a passagem:

  “O homem que se deitar com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e seu sangue cairá sobre eles.”
[Levítico 20:13]

  Oras, porque fariam uma lei para punir algo que não acontecia!?

  Nessa fase eu já tinha um bom conhecimento sobre mulheres, percebi quando o papo filosófico começou mais a afastar que atrair.
  Minha futura esposa não aguentava mais eu falar de Filosofia...

  Fui diminuindo os “papos cabeça”, não é que falta assunto é que ela já conhece meus assuntos.
▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬
  Vem comigo que isso pode ser muito importante para sua vida, Terapia da Lógica em estado puro.

  É evidente que a grande maioria dos casamentos caminham para o silêncio.

  Essa é a sequência de evento a ser esperada.
  Entretanto é um silêncio transcendental que deveria ser mais valorizado.
  Um amor em silêncio.

  Não é que “falte assunto”, acontece que são duas pessoas que se conhecem tão bem que DISPENSAM PALAVRAS.

  Isso aqui no Abismo dos Pensamentos é incrivelmente bonito, não entendo porque no mundo lá fora esse silêncio é tido como um câncer no casamento que deve ser evitado a qualquer custo!

  Evidente que não estou falando daquela situação que o casal não tem nada mais a ver e quase se detesta, não vou entrar por essa brecha agora, o texto ficaria muito longo, mas medite que esse “detestar” vai surgindo diante de exigências descabidas, que não tem lógica, como esperar que os assuntos aumentem mais e mais a cada dia ou se mantenham ao nível do namoro quando a vida dos dois era um filme novo...

  



  Meus assuntos com minha esposa são comentários sobre familiares e conhecidos em comum, planejamento de compras, educação das filhas, algum filme ou notícia...enfim coisas triviais na vida de qualquer casal.
  Minha esposa não fica me convidando para festas porque ela me conhece, sabe que não gosto de sair de casa, a falta de lógica lá fora é um grande incomodo para mim.
  Como eu a conheço e sei que ela gosta de festa, ela vai em todas que pode, não tem essa de “pedir” ela apenas por educação me comunica.

  Esse texto é importante porque sempre escrevo muito sobre “conhecer a si mesmo” hoje estou falando de CONHECER O OUTRO, RESPEITAR O OUTRO.

  Eu não ofereço tomate para minha esposa porque sei que ela não gosta, ela não precisa falar, não precisamos ter esse “assunto” ...EU JÁ SEI.
  Domingo eu passo na feira e compro pastel para minhas filhas e pamonha salgada para minha esposa, elas não precisam pedir, eu conheço o gosto delas...EU JÁ SEI.

  Onde as pessoas estranhamente veem falta de assunto eu vejo um CASAL EM HARMONIA, UMA FAMÍLIA EM HARMONIA.

  É muito triste observar casais que evitam esse estágio do relacionamento onde estamos bem mesmo estando em silêncio.

  A presença do outro nos basta, nossos desejos e vontades são conhecidos e respeitados sem que precisemos falar nada.

  Eu entendo que o amor possa estar no barulho o que eu não entendo senhoras e senhores é porque o amor não pode estar no SILÊNCIO!?

  “Decifra-me ou te Devoro!”





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